25 setembro 2008

A História do Telefone em Santa Catarina - Final


Churrascada na Conferência de Torres, reunião entre os Governadores de RGS e SC. Juan Ganzo está a direita, e na esquerda aparecem Juan carlos Ganzo Fernandez (3º) e Adán Ganzo Duque (4º).



Introdução

O Telefone

O Telefone no Brasil

O Telefone em Santa Catarina - Parte 1

O Telefone em Santa Catarina - Parte 2


Continuação...

Um dos lemas da Companhia era "ir de encontro às necessidades de expansão do Comércio do estado em geral, tratando de estender linhas e rêdes, apesar do encarecimento de todos os materiais usados e da alta da mão-de-obra." Esta foi uma das razões que a levou, em Setembro de 1940, fazer acôrdo de tráfego mútuo com a Empresa Sul Brasileira de Eletricidades (EMPRESUL), que possuia, na época, 132,919  quilômetros de linhas e 617 aparelhos instalados, sendo, depois da C.T.C., a maior empresa do estado, para resolver o intercâmbio de ligações intermunicipais e urbanas da cidade de Joinville.

O encarecimento dos materiais, que na sua maioria eram importados, e o alto custo da mão-de-obra, não foram as únicas causas que dificultaram as atividades da Companhia. Por muitas vezes ela tinha trechos de sua rêde apresentando defeitos de comunicação por causa dos contínuos roubos de seus fios de cobre, sendo este metal o motivo da cobiça dos ladrões. Para resolver este caso, passou a usar, então, fios de aço nos trechos assaltados. Outras vezes não era só na rêde que sumiam fios de cobre, no mercado eles também faltavam. Um dos maiores problemas da Companhia, por volta dos anos 50, foram as dificuldades de conseguir licença de importação, prejudicando assim, pela falta dos equipamentos, o bom funcionamento de todo o serviço, mas eventualmente foram contornados. As tarifas telefônicas para os serviços urbanos da Capital foram motivos de um outro problema. Por muito tempo a C.T.C. pediu ao Governo que as revisasse, pois passados 30 anos, desde a assinatura do contrato, em 5 de Dezembro de 1927, as tarifas continuavam as mesmas, isto é, até 60$000 para as grandes casas de negócios e 25$000 para particulares. A resposta para a solução deste caso veio em 5 de Novembro de 1956, quando foi renovado o contrato, entre o Governo e a Companhia Telefônica Catarinense, tendo a redação da Cláusula 21ª alterada, de maneira que ficava:

"facultado à empresa concessionária dos serviços telefônicos desta Capital, a periódicamente pleitear junto ao Governo do estado de Santa Catarina, uma justa revisão das tarifas telefônicas desta Capital, para atender a necessidade de melhoramentos e expansão desses serviços, bem assim, quando ocorrer substâncial encarecimento dos materiais e da mão-de-obra."

Além de ter renovado contrato, a C.T.C. marcou sua presença na década de 50, ligando o estado diretamente com o resto do Brasil e do mundo, através da RADIONAL; e também de ter ligado, por microondas, pela primeira vez, Santa Catarina diretamente com o Rio Grande do Sul, cumprindo assim o acôrdo firmado entre os Governadores desses dois Estados na Conferência de Torres em 1956.

A C.T.C. não chegou a automatizar todo o estado, muito menos, como já vimos, de ligá-lo todo. Depois de Florianópolis ter sido a primeira do estado a receber uma central automática, somente 9 anos mais tarde, em 1939, foi instalada a segunda central em Santa Catarina, na cidade de Blumenau. A automatização ocorreu paulatinamente, sendo que em Dezembro de 1959, apenas existiam as seguintes centrais automáticas instaladas pela Companhia, que ao todo representavam um total de 8.138 aparelhos: Florianópolis, Estreito, Blumenau, Itajaí, Lages, Rio do Sul, Brusque, São Francisco do Sul, Canoinhas, Tubarão, Porto União, Mafra, Rio Negro (PR), Caçador, União da Vitória (PR), Laguna, Jaraguá do Sul, São Bento do Sul, Videira, Curitibanos, Ibirama, Indaial, Tangará, Palhoça, Praia de Cabeçudas, Balneário de Camboriú, Biguaçú, Marcílio Dias, Rio Negrinho, Barra do trombudo, Joaçaba, Capinzal.
Mesa Berliner, instalada em Blumenau, 1945


Apesar de todos os esforços em manter e desenvolver o sistema telefônico, a C.T.C. estava com seus dias contados. Com a aceleração do desenvolvimento do estado, principalmente no setor econômico, se fazia necessário que as comunicações telefônicas também se aperfeiçoassem e se ampliassem na mesma intensidade, o que implicava em elevados investimentos, quase impossíveis de serem realizados pela iniciativa privada. A Companhia Telefônica Catarinense passou então a representar um entrave ao desenvolvimento de Santa Catarina, e o Governo do Estado, consciênte da importância da telefonia para a nova realidade catarinense, tomou a decisão de comprar a Companhia.

Em 25 de Janeiro de 1969, em Assembléia Geral Extraordinária, os acionistas da Companhia Telefônica Catarinense aceitaram a proposta do Estado e concordaram em vender seus bens, equipamentos e instalações em serviço.

Em 2 de Abril, o Decreto Federal nº 64.301 (D.O.U. de 07/04/69), autorizou a C.T.C. a vender seu acervo, assim como declarava caducadas as concessões outorgadas a esta Companhia tão logo se efetuasse a transferência dos seus bens ao Estado; dava ainda o prazo de 120 dias para que o Governo estadual estruturasse a empresa estatal substituta, "ao mesmo tempo em que autorizava a executar os serviços telefônicos anteriormente prestados pela C.T.C. enquanto estivesse em processo de organização a empresa estatal." Estas medidas só foram tomadas em 3 de Junho de 1969, quando do cenário catarinense desaparecia a Companhia Telefônica Catarinense, mas não seus feitos, e surgia a Companhia Catarinense de Telecomunicações (COTESC), uma empresa de economia mixta, sob a forma de sociedade anônima, criada através da Lei estadual nº 4.299, de 17 de Abril de 1969 e constituída, definitivamente, em 14 de Julho de 1969, no Governo de Ivo Silveira, que, posteriormente, em Setembro de 1974, no Governo de Colombo Salles, passou a denominar-se: Telecomunicações de Santa Catarina S.A. - TELESC.




A História do Telefone em Santa Catarina - Parte 2


Juan Carlos Ganzo Fernandez (filho do Cel. Ganzo Fernandez), diretor da C.T.C., inspecionando os postes para instalação das linhas telefônicas através do estado de Santa Catarina.


Introdução

O Telefone

O Telefone no Brasil

O Telefone em Santa Catarina - Parte 1





COMPANHIA TELEFÔNICA CATARINENSE (C.T.C.)


No dia 27 de maio de 1927, o jornal "O Estado" publicou uma pequena nota:


"A Empresa telefônica está restabelecendo as suas linhas e examinhando os apparelhos, afim de regularizar todo o serviço. É essa medida acertada, que visa satisfazer todos os assignantes, evitando reclamações."

Com a Capital do Estado sofrendo com as irregularidades do serviço da Empresa Trinks, Ehlke & Cia, bem como, todo o estado que não contava com nenhum serviço telefônico em seus municípios  e entre eles, com excessão de Blumenau e Joinville, era chegada a hora do Governo tomar providências necessárias para fazer Santa Catarina "falar".

A solução para o problema estava no estado vizinho, o Rio Grande do Sul, onde atuava, desde o começo deste século, a Companhia Telefônica Riograndense, de propriedade do Coronel Juan Ganzo Fernandez. "Empresa próspera e sólida", que dotou Porto Alegre da única central automática da América do Sul, se bem que em Rosário de Santa fé, na Argentina, também existia o serviço automático, mas bem menos aperfeiçoado; e que em julho de 1927 tinha, só naquele estado, 214 localidades unidas por telefones e 1780 empregados. Era esta Empresa com que Santa Catarina podia ter a chance de contar, com competência, tecnologia avançada e solidez econômica.

Foi a convite do Governador do Estado de Santa Catarina, Dr. Adolpho Konder, e do então Ministro da Viação, Dr. Victor Konder, que o Cel. Ganzo Fernandez decidiu vir para Santa Catarina, fixando residência em Florianópolis, de onde nunca mais saiu, afim de instalar uma Estação rádio-telegráfica, na Capital, e, principalmente, de implantar um sistema telefônico no estado. Sua chegada ao estado não sabemos ao certo o ano, pois de acordo com as fontes obtivemos duas datas: 1925 e 1927. Em todo caso podemos dizer que o Cel. Ganzo Fernandez chegou a Santa Catarina por volta de 1926.

O primeiro passo dado foi a instalação da Estação rádio-telegráfica, em Florianópolis, da Companhia Telefônica Riograndense, que realizou toda a obra com sua própria aparelhagem, sem auxílio e sem subvenção oficial. A inauguração da Estação se deu em 7 de julho de 1927, na praça XV de Novembro, nº 8, tendo o Cel. Juan Ganzo Fernandez como chefe da Estação e o Dr. Carlos Wendhausen como representante da firma na Capital. À solenidade marcaram presença: Dr. Adolpho Konder, Governador do Estado, acompanhado das suas casas civil e militar; Dr. Henrique Fontes, secretário da Fazenda e Obras Públicas; Dr. Cid Campos, Secretário do Interior; Medeiros Filho, Chefe da Polícia; Dr. Heitor Blum, Superintendente municipal; Coronel Lopes Vieira; Coronel Abdon Arroxllas, Inspetor da Alfândega; Coronel Mário Abreu, Delegado fiscal; Miguel Antomades, Vice-cônsul da Grécia; Dr. Willy Hoffmann, engenheiro da firma Hoepcke & Cia; Dyonísio Sousa, Chefe do serviço de rádio; Pe. Dr. Zartmann, Diretor do Ginásio Catarinense, e outros.

Depois de vencer a concorrência pública para implantar um sistema telefônico no estado, em 5 de Dezemmbro de 1927 o Cel. Ganzo Fernandez firmou contrato com o Governo de Santa Catarina para que sua firma, a Companhia Telefônica Catarinense, que não tinha nenhuma ligação com a Companhia Telefônica Riograndense, explorasse os serviços de comunicação telefônica e fonográfica intermunicipais, bem como o serviço telefônico da Capital do Estado e seu Município, de acordo com a Lei nº 1578, de 21 de Setembro de 1927, por não mais de 35 anos.

Além de explorar os serviços intermunicipais, a Lei também permitia à empresa explorá-los nos outros municípios do estado, desde que:

"Parágrafo Único - Si a exploração fôr feita dentro do mesmo município, cabe aos municípios conceder os respectivos privilégios."

As primeiras cidades a serem ligadas à Capital, pela C.T.C. foram Itajaí, Blumenau, Joinville e Laguna, através de linhas telefônicas, e Lages, atarvés de rádio. A construção  da rêde foi iniciada em 22 de Dezembero de 1927, dirigindo-se para Laguna por São José, Palhoça, Massiambu e Paulo Lopes, e para Itajaí, Brusque , Blumenau e Joinville, passando por Biguaçú, Tijucas, Itapema e Gaspar.

Os serviços telefônicos e fonográficos passaram a funcionar em meados de 1928, logo após estabelecida a primeira linha telefônica, a Florianópolis-Joinville, unindo São José, Biguaçú, Tijucas, Itajaí, Gaspar, Blumenau e as demais localidades intermediárias, e também Palhoça. No ano seguinte, o estado já contava com o funcionamento de 23 estações, ligadas entre si por uma rêde de 800 km, atravessando 14 municípios.

à medida em que as linhas eram instaladas, iam sendo observadas as vantagens oferecidas pelas comunicações telefônicas inter-municipais, despertando com isso, especial interesse dos poderes municipais, e suas respectivas populações, pela realização desses serviços nos municípios que ainda não os possuiam.

Os fonogramas, que já eram conhecidos no Rio Grande do Sul, foram uma das novidades trazidas para Santa Catarina pelo Cel. Ganzo.

Os fonogramas eram telegramas telefônicos. Obedeciam o mesmo sistema dos telegramas comuns, mas com a diferenca de serem mais rápidos, custarem  a metade da taxa de um telegrama e de serem, absolutamente, sigilosos. Eles eram feitos da seguinte maneira: entregava-se, no guichet da Central, o original, pagava-se a taxa e o fonograma era expedido pelos aparelhos telefônicos para a localidade do seu destino. Lá, era entregue ao destinatário, fechado.

Além dos fonogramas, as linhas intermunicipais se destinavam também as "conferências telefônicas". A pessoa que desejasse falar, de Florianópolis, com uma outra pessoa em Joinville, pedia a ligação, de sua casa ou da Central. Previamente era enviado um aviso, por fonograma, à pessoa com quem desejasse falar, marcando a hora para a conferência. A taxa a ser paga era contada por minuto.

"Entre apparelhos de dois (2) assignantes até 20 kilometros de distância por três minutos 1$000
Por minuto seguinte $400
Por mais 10 kilometros ou fracção por três minutos $200
Por minuto excedente $400"

De acordo com o contrato, o serviço na cidade e município de Florianópolis só podia começar quando terminasse o prazo de concessão da empresa telefônica que funcionava alí. Como o contrato da Trinks, Ehlke & Cia foi assinado em 2 de Julho de 1908 e terminaria 20 anos depois, a contar daquela data, é bem provável que a C.T.C. só começou suas atividades pelas proximidades de Julho de 1928. É o que também nos leva a crer a Mensagem do Dr. Adolpho Konder à Assembléia Legislativa em 29 de Julho de 1928, onde ele declara:

"No município da Capital foi construida, e já se acha funcionando, uma linha para a praia do Campeche, que serve ao aeródromo da Companhia de Aviação Latecoère; e já estão sendo preparados os materiais destinados à rêde urbana, que obedecerá ao systema automático."

A implantação do sistema automático de transmissão em Florianópolis só se concretizou em 1930, também fazendo parte das obrigações contratuais. Entretanto, foi dado ao concessionário a faculdade de e3stabelecer outros sistemas mais baratos, como uma medidad de manter os
 serviços funcionando, enquanto o sistema automático não era ativado, e de favorecer a população que não tinha meios de adquirir, tão cedo, um aparelho deste novo sistema que custava 15 vezes mais que um aparelho de sistema manual.

O sistema automático foi outra das novidades introduzidas em Santa Catarina pela C.T.C. Este sistema dispensava, definitivamente, o emprego de funcionários para fazer as ligações. Bastava o ususário, tão somente, girar o disco de algarismos de 1 a 0, junto ao aparelho, combinando-os de maneira a obter o número desejado, para que a ligação fosse feita, em poucos segundos. Para desligar era só tocar no gancho.

O sistema, segundo o Cel. Ganzo Fernandez, era "tão perfeito que quando, porventura, algum defeito na linha se manifesta, uma lâmpada se acende, diante do operador. A côr da luz que apparece varia conforme a natureza do defeito. Assim, pois, si se trata de um curto circuito, a luz será vermelha, por ex; si um fio desligado, azul, etc. No local em que o defeito se encontra
 existirá uma pequena faísca da mesma côr da lâmpada que deu o sinal".

Em 21 de Setembro de 1930, às 14 horas, na Praça XV de Novembro, nº 8, cumpriu-se o contrato da Companhia Telefônica Catarinense com a inauguração da Central Automática de Florianópolis. Esta cidade passava a ser, então, a 20ª do mundo que possuia este serviço, e a 5ª do Brasil que o inaugurava.

Nesta mesma ocasião inaugurou-se também a rêde telefônica subterrânea da Capital e as linhas interurbanas, ligando Florianópolis a: par o Norte - Biguaçú, Tijucas, Camboriú, Itajaí, Brusque, Gaspar, Blumenau, Itoupava Seca, Indaial, Timbó, Jaraguá do Sul, Hansa, Joinville, Parati e São Francisco -, para o Sul - Estreito, São José, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, Paulo Lopes, Laguna e Tubarão.

À inauguração estiveram presentes: Dr. Antônio Vicente Bulcão Vianna, Presidente do Estado; Dr. Fulvio Aducci, Presidente eleito de Santa Catarina; Dr. Adolpho Konder, Senador; Dr. Heitor Blum, Prefeito da Capital, entre outros.

Pouco à pouco, a C.T.C., com seus próprios recursos, ia estendendo sua rêde, sempre por linhas físicas, por quase todo território catarinense, como podemos notar no quadro abaixo e no quadro do anexo 6. Não podemos deixar de chamar a atenção para duas cidades paranaenses - Rio Negro e União da Vitória - que fazem parte deste último quadro. Infelizmente, nada podemos dizer a respeito de suas presenças na rêde intermunicipal de Santa Catarina e, consequentemente, da saída da Companhia do território catarinense.





Continua...