14 junho 2011

Um dos Sonhos de Juan Carlos Ganzo Fernandez



O que eu gostaria de fazer, se um dia Deus me der, lucides, força, saúde e dinheiro:

12-7-1967

Preparar para meus netos, a cachoeira do morro da Lagoa, com piscina e grande conforto para que possam mostrar a obra do avô.
Fazer daquela propriedade um lindo recreio.
Ter um grande criadouro de aves e coelhos.




Obs. Texto retirado de um caderno de anotações dele.

As Histórias de Cito Ganzo (Juan Ganzo Fernandez Filho) - As Doces Loucuras do Cito

Juan Ganzo Fernandez Filho com sua 1° esposa Solange Di Bernardi e a filha Margot sentados na Lambreta. O casal da direita da foto é o Tio Hélio Estrella e a tia Hânia Hryniewicz Estrella.
Foto tirada lá pelos idos de 1965 na Lagoa da Conceição. Casa do Vô Juan Carlos.


À partir da esquerda: Carlos Alberto Ganzo Fernandez, Juan Ganzo Fernandez Filho (Cito), Dr. Waldir Bush, Ramirez Ganzo Fernandez, Berta Ganzo Fernandez, Juan Carlos Ganzo Fernandez, Albertina Saikowska de Ganzo, Diamela Ganzo Fernandez, Francy Ganzo Fernandez e Clorinda Ganzo Pereira.
Foto tirada por ocasião do aniversário de 80 anos do vô Juan Carlos, comemorado no Countru Club de Santa Catarina em 1972.






As doces
loucuras do cito


O figuraço Cito Ganzo levou para o túmulo não apenas o episódio em que colocou o seu gato de estimação na geladeira e mandou que o amigo Van Holf fosse buscar o gelo para juntos sorverem um uísque, existem muitos outros fatos notáveis registrados com a sua irreverência. Outro dia, numa roda de amigos, veio à tona algumas facetas de Ganzo, provocando um turbilhão de gargalhadas mesmo naqueles que não tiveram o prazer de conhecê-lo.
Existiram em Florianópolis dois personagens imbatíveis, dosados de acentuada dose de sacanagem, no bom sentido, sempre prevenidos em pregar uma boa peça nas pessoas em sua volta, Enéas Noronha e Cito Ganzo. As peripécias de Ganzo eram menos cáusticas e dosadas de ironia, mas sobretudo originais, criativas, engenhosas. Existia um pouco de uma doce loucura em quase tudo o que fazia.
Nos anos 60, possuir uma bicicleta era equivalente a desfrutar de um automóvel nos dias de hoje. De família bem-sucedida, seu pai explorava a telefonia local, Cito apareceu no Campo do Manejo, onde a garotada jogava bola e soltava pandorga, com uma bicicleta novinha e propôs, ao garoto que vendia bananas recheadas, a troca do veículo, uma raridade na época, pela iguaria do balaio. Claro que o vendedor topou e o negócio foi fechado. Enquanto Cito comia a banana, o garoto subia o morro da Mariquinha com a "magrela" nas costas.
Em outra oportunidade, o engenhoso Cito, fascinado com a exibição de pára-quedistas nos céus de Florianópolis, imaginou que também poderia voar. E surpreendeu a família ao saltar do segundo andar do prédio da telefônica, que ficava na rua Vítor Meireles, com um guarda-chuva aberto. Ele foi parar no hospital, mas a sua façanha foi amplamente comentada no Ponto Chic.
Mas a singular engenhosidade de Cito Ganzo foi mais longe. Motivado com o filme "Vinte mil léguas submarinas", um clássico de Walt Disney, em cartaz na cidade, ele mesmo decidiu construir o seu submarino. Olhares curiosos quanto suspeitos se aglomeraram na rampa do Clube Náutico Aldo Luz, ao lado do hotel Royal, para prestigiar a chegada da engenhoca de Cito, filho de papai rico e por isso era respeitado pelos colegas, embora conhecessem a sua absurda genialidade.
Cito desceu o monstrengo na rampa, com ajuda de alguns colegas, e vibrou quando o seu submarino flutuou. Palmas surgiram do cais, enquanto ele posava para fotografia. Enfiou-se na horizontal dentro da engenhoca e esta, aos poucos, foi afundando, afundando, permanecendo inerte no fundo do mar. Cito foi retirado do submarino pelos remadores do Aldo Luz. Essa aventura de Ganzo deu o que falar na cidade, sendo inclusive tema de marchinha de Carnaval.


Fonte: Coluna de Aldírio Simões no Jornal A Notícia de 28 de maio de 1999

As Histórias de Cito Ganzo (Juan Ganzo Fernandez Filho) - Gato na Geladeira

Juancito com 2 aninhos. 1942




Gato na geladeira


A cidade vai ficando cada vez mais triste, mais sisuda, com a morte de seus mais representativos e bem humorados habitantes. O falecimento recente de Juan (Cito) Ganzo deixa a Ilha desfalcada da alegria, da descontração, da doce molecagem. Juancito foi mestre em protagonizar episódios insólitos, aos olhos atônitos da conservadora população nos anos 50. Fatos inusitados no melhor estilo sessão do pastelão, que preferimos dividi-los em diversas colunas para que o leitor possa deleitar-se com as diabruras desse incrível manezinho.
Perspicaz e inventivo quanto ousado, Cito convidou o arquiteto George Van Holff, amigo de muitos anos, para um uísque em sua casa. Havia uma identidade e uma relação de amizade muito forte entre eles. Van Holff conhecia a disposição de Cito para criar situações hilariantes, porém nunca imaginou que ele mesmo fosse personagem de uma delas.
Não pensou duas vezes em aceitar o convite para o uísque. Deliciava-se com o bom humor, com as histórias contadas por Cito, pelo qual nutria grande admiração. Os Ganzo fazem parte da própria história da cidade, entretanto, as cenas inusitadas patrocinadas por Juanzito não correspondiam com a tradição e o conceito da abastada família.
No telefone Cito concluiu o convite ao amigo, convocando-o para que trouxesse aquele escocês legítimo, que há muito ele havia prometido sorver a dois. Naquela década, somente as pessoas mais abonadas consumiam uísque, produto importado e de difícil aquisição. Por isso a cerveja Faixa Azul era a preferida da classe média, a peble chupava os beiços com dose de conhaque Castelo ou cachaça brava fabricada na região de Biguaçu.
Com o litro de uísque embaixo do braço Van Hoff foi festivamente recepcionado ao bater na porta de Cito Ganzo, que ficou a cantar loas ao precioso líquido e ao conferir a procedência e a dosagem alcóolica estampados no rótulo. Copos de cristal estavam cuidadosamente colocados sobre à mesa, recebendo uma observação elogiosa do holandês: "esses copos foram naturalmente lavados com açúcar?" O anfitrião balançou a cabeça com gesto afirmativo: "Para um uísque dessa qualidade não poderia ser diferenten é?" Risos ecoaram na sala.
Ao abrir a garrafa Van Holff observou, admirado: "Mas como sorver um bom uísque sem um gelo cristalino na mesa?"
É verdade... faz favor de apanhar o balde que está na geladeira - determinou Cito.
Ao abrir a porta um gato bravo e não menos assustado pula do interior da geladeira sobre Van Holff, se estatelando no chão.
Afundado na poltrona Cito, que havia propositalmente colocado o gato na geladeira, ri aos escancaros. Havia eleito mais uma de suas muitas vítimas.



Fonte: Coluna de Aldírio Simões no Jornal A Notícia de 16 de maio de 1999