25 abril 2008

Coronel Ganzo, cidadão catarinense


Hoje, mais uma vez, remexendo nas fotos antigas que eram de minha vó Albertina, deparei-me com uma carta guardada por meu avô Juan Carlos. Li e achei-a muito linda. Vou transcrevê-la abaixo:


"Florianópolis, 2 de abril de 1969


Prezado amigo João Carlos,

Outro dia mandei-lhe um saudoso abraço pelo Odilon e pedi o avisasse de que qualquer tarde dessas iria fazer-lhe uma visita.
Somos velhos amigos e apesar de morarmos numa pequena cidade faz já bastante tempo que não nos vemos.
Agora, após o almosso, ao lêr o "Estado", deparo com a transcrição da notícia da morte do nosso querido Coronel Ganzo, publicada há 12 anos no jornal "El Debate".
Li-a e reli com carinhosa saudade. Fui um velho amigo de seu pai. E êle, parece, também me dedicava amisade. Quando me via bem disposto, lá em seu escritório, batia-me no ombro e exclamava sorridente: "Estás como um potrilho"!...
É pena que já não o possamos ouvir mais, nem vê-lo sempre apressado, falando alto e querendo inteirar-se de todas as miudezas de sua emprêsa.
Afeiçoou-se cá a terra ilhoa e não a largou mais. Afinal, transformou-se num grande catarinense, querido e respeitado por quantos o conheceram e privaram de suas relações. E Florianópolis só pode orgulhar-se de seu querido amigo.
Hoje, a 12 anos de sua morte, relembro o grande batalhador, o grande idealista que êle sempre foi, mas, sobretudo, o amigo bom e atencioso que perdi e choro com sincera saudade.

Um abraço cordial do


Osvaldo Machado"




Obs. Por estas razões me orgulho de estar mantendo este blog. São histórias como estas que precisamos relembrar. Contar às gerações mais novas quem foram os nossos familiares. Um dia, estarão contando também sobre nós.

15 abril 2008

O dever da memória, por Abrão Slavutzky

O dever da memória, por Abrão Slavutzky*

A história da humanidade começou com o dever da memória. O primeiro dever foi a construção de uma sepultura como homenagem a um ente querido morto. A criação do túmulo, ocorrida há 50 mil anos, foi um divisor de águas entre a natureza e a cultura, uma vez que o ritual funerário não é natural, pois os animais, quando morriam, ficavam na superfície. O túmulo é também um sinal de identidade lingüística, pois o morto é individualizado, o que foi decisivo na construção da linguagem. A perda recebe então uma marca na terra e uma marca mnêmica que vai construir o que virá a ser a realidade psíquica. A tragédia Antígona, de Sófocles, representa a importância desse ritual: o rei Creonte proíbe o enterro de Polinice. Antígona, sua irmã, insistiu em enterrá-lo, mesmo sendo morta por isso.

O dever da memória evoca uma dimensão religiosa, no sentido de relegere (Cícero), que é o de tornar a ler o passado. Este é indispensável à manutenção da unidade de um grupo; na Bíblia, por exemplo, a ordem de lembrar é onipresente através da palavra Zakhor. Aprendi com meu pai a frase com que encerrava nossas conversas: "O passado ainda é o passado". Mas se o passado pesar muito, o sujeito fica melancólico, pois a sombra do objeto perdido cai sobre o Eu. Nesse caso, a memória da perda não alivia, mas gera uma tristeza constante.

Hoje, por dever de memória do valor da liberdade, recordo dois eventos: 68, o ano que retorna, quando milhares de jovens lutaram por uma humanidade mais justa. Fiz parte daquela juventude otimista, a geração 68, que imaginou poder transformar toda a sociedade. Vinte anos depois um dos líderes daquela rebelião, Dany Cohn-Bendit, fez um balanço daqueles anos no livro Nós que Amávamos tanto a Revolução. Alguns ideais ficaram distantes, entretanto 68 retorna porque abriu espaços para mudanças efetivas de valores nas relações humanas: hoje somos mais livres.

O outro acontecimento foi o Levante do Gueto de Varsóvia, iniciado no dia 19 de abril de 1943, há 65 anos. Essa rebelião, feita por judeus, foi a primeira revolta civil contra o nazismo. Centenas de jovens mal armados desafiaram o exército alemão durante um mês, preferindo a morte na luta do que nos campos de extermínio. Hoje é considerado uma das epopéias da humanidade, como a rebelião dos escravos comandada por Spartacus em Roma ou a dos negros liderada por Zumbi aqui no Brasil.

Temos o dever da memória com os que enriqueceram a sociedade com a solidariedade e a compaixão. Não só com os heróis famosos, mas com nossos familiares, muitos vindos de terras distantes, que nos deram um nome, estudos e confiaram no porvir. Um dia perguntei a Cyro Martins sobre seu amor pelo passado na sua ficção, onde se refere ao seu pai Bilo e seus amigos. Ele me disse que a memória eram as raízes do escritor. Lembrar aqui o amigo Cyro, a geração 68 e os jovens do Gueto de Varsóvia é criar pontes invisíveis pelas quais o passado transita para o presente.

*Psicanalista

02 abril 2008

Árvore Genealógica - Desejo Antigo

Imagem da árvore esboçada por Carlos Alberto Ganzo Fernandez em 1960




Amigos... Já se passaram quase dois anos do momento que comecei este blog. Iniciei a atividade, logo após ter conhecimento que havia primos no Uruguay. Me surpreendi! Assim que conheci o Rodolfo Miguel Bia Ganzo, ao qual, nos correspondemos regularmente, tivemos notícias de outros primos. São tantos e em tanto lugares... que hoje, não me surpreendo mais. A família é grande, mas desunida.
Com a separação de nossos parentes há décadas, as famílias cresceram separadas, sem contato. Houve quem nem soubesse que a família de nossos avós e bisavós fosse tão grande. Até eu! Sempre ouvi que meu bisavô tinha um irmão no Uruguay. E assim que soube que eram mais três irmãos... nossa... fiquei realmente curioso. Graças ao Rodolfo, que iniciou sua pesquisa sobre a árvore genealógica da família Ganzo, tudo isto que tenho lhes passado foi possível. Acreditem... esta árvore vai ser completada.
Bem, entrei em contato com várias fontes e, de uma em uma, vamos fazendo progressos. Hoje, muitos dos descendentes não se utilizam mais do sobrenome, é uma pena, mas são genuínos. Os ramos adquiriram outros sobrenomes, como: Fedrizzi, Curotti, Duque, Hommers, Barcellos, Bia, Fullgraff... ou subtrairam a letra, como os Ganz, mas são sangue do nosso sangue, primos, ligados por uma história em comum. Orgulhosos de pertencerem a esta família.
E assim, venho com orgulho dizer, que, insistindo nesta empreitada, pesquisando, tentando... sempre tentando... acabei por encontrar um parente há muito tempo, separado de sua família, ao qual havia perdido contato há dácadas. Rubem Ganzo! Comuniquei o encontro deste Sr. com seus familiares da família Fedrizzi e agora aguardo para ter notícias sobre esse reencontro. Fiquei muito feliz. Sei que isto se deve em grande parte a minha persistência em fazer nossa árvore genealógica.
E afinal, não é só um desejo meu. Meu avô, há 48 atrás já tentava esboça-la numas folhas de papél. Aqui está minha contribuição àquele desejo.

Um grande abraço à todos!

Espero estar recebendo novas contribuições!


Obs. João Alberto da Costa Ganzo Fernandez me corrigiu. A letra é de seu pai, Carlos Alberto. Tio Beto.