24 setembro 2008

A História do Telefone em Santa Catarina - Parte 1


Juan Ganzo Fernandez, sem chapéu, em primeiro plano, durante as instalações de linhas telefônicas para o interior do Estado de Santa Catarina. Anos 30.


Introdução

O Telefone

O Telefone no Brasil




O TELEFONE EM SANTA CATARINA


OS PRIMEIROS PASSOS


O telefone não tardou em aparecer em Santa Catarina.

Um ano após a instalação dos primeiros aparelhos no Brasil, Desterro (antigo nome de Florianópolis) teve o privilégio de presenciar a primeira experiência feita com o telefone em Santa Catarina. Privilégio este que se não fossem duas pequenas notícias em dois jornais locais, dos três que existiam, "O Despertador" e "O Conservador", o fato passaria despercebido.

Na noite do dia 26 de julho de 1878, durante o Governo do Dr. Lourenço Cavalcanti de Albuquerque, o Sr. Cavalcanti, chefe da estação telegráfica da Capital da província, convidou a população para assistir a experiência, que foi feita ligando a estação telegráfica, no Largo do palácio, à estação do Estreito, o que equivalia, mais ou menos, a dois mil metros.

Várias pessoas tiveram a oportunidade de falar ao aparelho e todos que ali estavam presentes puderam ouvir as perguntas e as respostas transmitidas de forma clara e distinta, "como se estivessem conversando n'uma distância de 20 a 30 metros".

Segundo os jornais, o Sr. Cavalcanti tencionava fazer uma nova experiência entre a estação do Estreito e a de Laguna, por ser a distância maior, porém, não conseguimos comprovar se o teste foi feito.

Após este primeiro contato da população com o telefone, o desenvolvimento da telefonia em santa Catarina seguiu a passos lentos e de forma precária.

A primeira concessão, para instalar linhas telefônicas no Desterro, foi dada a Arthur Teixeira de Macedo através do Decreto Imperial nº 8.458, de 18 de Março de 1882, de conformidade com as bases aprovadas pelo Decreto nº 8.453 A, que estabelecia as cláusulas do contrato. segundo este Decreto, a concessão era de 15 anos, durante os quais não poderia ser autorizada empresa idêntica a se estabelecer dentro da mesma circunscrição. Examinando os jornais da época, apesar da maioria não ter edições periódicas, não existe neles qualquer menção a respeito, seja da concessão, seja de alguma tentativa de assentamento de linhas telefônicas; o que nos leva a crer que a concessão tenha caducado, no máximo, depois de um ano da publicação do Decreto de
concessão, segundo a cláusula 16ª, que dizia:

"Caducará a concessão:

1º Si o assentamento das linhas não estiver começado dentro do prazo de seis mezes, contados da publicação do respectivo decreto.
2º Si dentro de um anno contado da mesma data não se tiver concluido o assentamento das linhas".

Corroborando o caduamento da concessão está o fato de que só a 24 de Março de 1884 foram instaladas as primeiras linhas telefônicas em Santa Catarina, na Capital, ligando vários orgãos provinciais. Os aparelhos do sistema Adler, os mais aperfeiçoados da época, foram instalados no palácio da presidência, na tesouraria geral e provincial e na secretaria da polícia, sendo que o palácio da presid~encia servia como estação central das linhas, equipado com um comtador, mediante o qual as estações podiam falar entre si alternadas ou simultâneamente.

Os telefones encomendados pelo então Presidente da província, Dr. Francisco Luiz da Gama Rosa, tiveram problemnas nas suas instalações, pois não vieram acompanhados das instruções orientadoras do fabricante, além de que não existia na cidade nenhum conhecedor de telefonia. Por fim, depois de estudos e tentativas chegou-se a um resultado favorável graças a dois empregados do telégrafo do Estado, os Srs. Wernek e Lima.

Segundo "O Despertador" não era preciso
"fallar alto para que se ouça nitidamente as palavras, podendo, distinguir-se perfeitamente as pessoas que fallam, pelo timbre da voz peculiar a cada uma.
Todos os ruidos produzidos nas proximidades do apparelho, como risos, sons musicaes, etc, são transmittidos fielmente pelo instrumento".

O fato da insatlação dos telefones tomou uma certa notoriedade quando o jornal "Correio da Tarde", usando o telefone como pretexto para criticar a administração governamental, começou uma peleja com o jornal "O Despertador" que elogiava o procedimento do Dr. Gama Rosa. enquanto o "Correio da Tarde" dizia:

"ainda mesmo que a província estivesse nas melhores condições possíveis, um administrador sensato e que compenetrasse do alto cargo de que se acha revestido, não mandaria assentar linhas telephonicas nas repartições públicas, por ser uma cousa completamente inútil, de mero luxo aqui".

"Mas o que s. ex. queria com os telephones era uma distração para si e os seus meninos; alcançou o que ardentemente desejava; está satisfeitíssimo. Que digam as repartições públicas constantemente interrompidas em seu expediente, com detrimento do serviço público, o quanto s. ex. tem pagodeado!
Eis a grande vantagem que nos trouxe o telephone e pela qual o povo catharinense deve exultar de contentamento."

O "O Despertador" rebatia:

"O seu funccionamento nos estabelecimentos públicos não pode pertubar em cousa alguma os respectivos trabalhos, tornando-os, pelo contrário, mais accelerados e promptos pela facilidade em se obterem informações immediatas. Admira que se possa pensar diversamente.
E tanto é reconhecida a utilidade desse novo e admirável apparelho, que elle está sendo geralmente adoptado em todo o mundo, servindo grandemente às relações sociaes de todo gênero."

Diante de pontos-de-vista tão antagônicos, somente o tempo poderia ou não dar razão ao procedimento do Dr. Gama Rosa e as opiniões daqueles, que como "O Despertador", acreditavam, no valor do telefone.

E assim aconteceu quando em 6 de Outubro de 1887, através da Lei nº 275, o Estado de Santa Catarina concedeu privilégio por 25 anos a Alexandre Grandemagne e Gervásio Bortoluzzi para estabelecerem uma linha telefônica entre Tubarão e Araranguá - a primeira linha interurbana que temos conhecimento; quando, em 1903, a Câmara Municipal de Florianópolis concedeu a Valentim Uriz Erdosaim, direito de uso e gozo de uma rede telefônica no minicípio - não sabemos se a rêde foi instalada; quando, em dezembro de 1905, todas as providências estavam sendo tomadas para estabelecer uma estação telefônica, a primeira, em Painel, distrito de Lages, e, finalmente, quando, em 1907, o serviço público da Capital reclamava a instalação de aparelhos telefônicos nas repartições para dar maior rapidez as providências por elas tomadas,
confirmando assim, 23 anos depois, as opiniões do "O Despertador".

Da concessão municipal a Valentin Uriz Erdosaim, em 1903, pouco sabemos, mas provavelmente, deve ter caducado, cremos, 6 meses após assinado o contrato, se nos basearmos no contrato de concessão de 2 de Julho de 1908, firmado entre a Câmara Municipal de Florianópolis e o concessionário Carlos A. Reis para instalação, exploração e monopólio de uma rêde telefônica, nesta cidade, por 20 anos.

Por motivos desconhecidos, Carlos A. Reis transferiu a concessão em 17 de Agosto de 1908 à firma Grossembacher & Trinks, de Joinville. A mesma firma, que através da Lei nº 804, de 8 de Setembro de 1908, recebeu, também, do Governador do Estado Gustavo Richard privilégio por 20 anos para instalar uma rêde telefônica que, partindo do município de Joinville, ligasse os municípios de São Francisco do Sul, Parati (atual Araquari), Campo Alegre e São Bento.

Representada por Paulo Trinks em Florianópolis, a empresa em 4 dias, após a transferência, já se manifestava através de jornal, oferecendo seus serviços ao público, seja a particulares, associações, casas comerciais ou estabelecimentos públicos. Em Janeiro de 1909, Florianópolis já constava com 122 telefones instalados, número que pouco se alterou até 1915, quando apareceu a primeira lista telefônica do município, talvez a primeira do estado, aumentando para 257 assinaturas, quando Florianópolis constava com, aproximadamente 40.000 habitantes.

Grossembacher e Trinks foram dois nomes que ficaram ligados à telefônia do estado até 1932. Em Florianópolis, a sociedade Grossembacher & Trinks desapareceu antes de 1915, surgindo a sociedade Paulo Trinks e Ehlke, que a partir de 1º de Janeiro de 1922 passou a ser Trinks, Ehlke & Cia, quando a Paulo Trinks e Paulo Ehlke juntou-se Henrique Stamm, e que se dissolveu em 12 de Julho de 1928.

Sobre a firma Grossembacher & Trinks em Joinville, os documentos que a Junta Comercial do Estado dispõe, e que datam desde 1926, nos levam a crer que a firma continuou até 1932, formada por Gustavo Grossembacher e Adolfo Trinks, quando se dissolveu.

Nossas imprecisões a respeito das sociedades comerciais se originam da falta de documentos na Junta Comercial do Estado, que em 18 de Fevereiro de 1919 foi destruida num grande incêndio, resultando daí o desaparecimento de todos os registros de firmas comerciais deste Estado.

Uma análise dos dados disponíveis sobre a empresa Grossembacher & Trinks nos levam a presumir que Paulo e Adolfo Trinks formavam com Gustavo Grossembacher a sociedade. Pouco antes de 1915, Paulo trinks saiu da firma, recebendo, por acôrdo, a concessão municipal de Florianópolis, pertencente a Grossembacher & Trinks, como pagamento de seu capital na empresa. Paulo Trinks fêz então sociedade com Paulo Ehlke, e que mais tarde se transformou em Trinks, Ehlke & Cia. Enquanto isso, em Joinville, Gustavo Grossembacher e Adolfo Trinks continuavam com a sociedade, até 1932, de posse, agora também, de uma concessão municipal, de 13 de Abril de 1917, desta mesma cidade.

Uma idéia do que era a telefonia, em 1913, em Santa Catarina podemos ter no quadro abaixo, que não se modificaria muito nos próximos 14 anos, até a data da implantação da Companhia Telefônica Catarinense, pelo Coronel Juan Ganzo Fernandez, em 1927. E que só
Joinville, Blumenau e Florianópolis "constavam com serviço telefônico no estado, que era prestado por centrais locais, funcionando manualmente".


A implantação de um sistema telefônico intermunicipal no estado se fazia necessário a medida que a população se expandia e em face do aumento da economia. Tornava-se assim fundamenental as trocas de informações entre os catarinenses para que houvesse maior integração social, mais rapidez nas transações comerciais e maior agilidade nos serviços da administração pública.

Tentativas foram feitas como a de 1914, a primeira, que através da Lei nº 1001, de 10 de Outubro, o Governador do Estado de Santa Catarina, Coronel Felipe Schmidt concedia privilégio a José O'Donnel, ou empresa que organisasse, para estabelecer linhas telefônicas entre todos os municípios do estado por 20 anos, e a de 1924, em que o governador Dr. Hercílio Pedro da Luz concedia, em 8 de Maio, à Companhia Tracção, Luz e Força de Florianópolis privilégio exclusivo para instalar e explorar os serviços de telefones urbanos e suburbanos em todo o estado catarinense, mediante a condição de ligar os municípios à rêde geral. Porém, esta Companhia desistiu do privilégio em 17 de Janeiro de 1927.

Mas foi neste mesmo ano de 1927, com a instalação da Companhia Telefônica Catarinense, que se pôs fim a deficiência de comunicação nos municípios e entre eles.



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