09 setembro 2006

Jornal El Debate - Montevideo - Uruguay - 1957




Talvez às novas gerações não soe conhecido o nome régio varão, - JUAN GANZO FERNANDEZ - que acaba de falecer em Florianópolis, longe da pátria que tanto amou e em serviço da qual consumiu parte dos muitos anos de sua existência e talvez o melhor de sua inteligência lúcida e de seu insuperável espírito de empresa, que tantas vezes adquiriu perfis de aventura.
Tinha oitenta e quatro anos de idade. Viveu-os entre o Uruguai e o Brasil. Por onde estivesse, por onde ecoasse a sua voz e se notasse o seu gesto, todos os que o conheceram, viam na sua presença, um símbolo de amizade indestrutível entre ambos os povos.
Foi um AVANÇADO na organização de empresas de vasto alcance, algumas quase lidando com quimeras. Todas, destinadas a estimular o progresso, a abrir horizontes às novas gerações, ensinando-as a ganhar o sustento fora dos quadros burocráticos e politiqueiros e orientando-as sem cessar, acêrca das inecedíveis virtudes do trabalho, da independência econômica e da liberdade espiritual e cívica.
Foi um grande otimista. Não conheceu a fadiga, nem o amedrontou o fracasso, nem o desanimou a incompreensão. Tirou novas forças de todas adversidades que atravessou com temperança e senhorio, e, somente agora, pode-se dizer, ao ser abatido pela morte, que conheceu o descanso.
Foi um homem estreitamente vinculado aos grandes dirigentes da política tanto do nosso país como do Brasil. Ganhava a confiança e a estima, pela seriedade de seus procedimentos, pela lealdade de suas atitudes, e pelo empenho com que se multiplicava para ser útil e ao mesmo tempo afastar todo o baixo propósito de lucro e toda a vã e estéril ostentação. Prestou eminentes serviços à soliedariedade uruguaio-brasileira. Em momentos difíceis se não se tivesse em primeiro lugar o conselho de sua experiência, muitos assuntos intrincados teriam ficado sem solução. Seu patriotismo, limpo e romântico, nunca lhe criou incompatibilidades para militar no Partido Nacional. O serviu, o ajudou, o assistiu, confidelidade exemplar, desde os dias azarosos do QUEBRACHO até estas últimas semanas, em que ver HERRERA (líder do Partido Nacional) e estar na sede do Diretório, ainda que fôsse por instantes, compunham uma espécie de obsessão, como se buscasse na visão do Homem a quem havia seguido durante tantos anos, e na da Casa que havia contribuido a formar, a feliz serenidade, a terna alegria de suas grandes devoções para empreender a viagem sem retorno.
O conhecemos a muitos anos. Centenas de vêzes Herrera no-lo apontou como exemplo de patriota, de partidário e de amigo. Pudemos comprová-lo. O admiramos, porque nunca o vimos desfalecer. Ganzo Fernandez, o Coronel Ganzo Fernandez, como o chamávamos ademais nos oferecia sempre uma idéia constante de luta e de superação, de eterna juventude. Parecia imortal.
Na despedida, pensamos que, em seu féretro, bom lugar teria um punhado de terra uruguaia. Se sentiria menos só, no mistério do trânsito eterno.
Nos curvamos ante sua figura, quase lendária, e evocamos com emoção e saudade, o exemplo de sua vida e de sua paixão pela Pátria e pelo Partido Nacional.

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