Mais uma raridade enviada por João Francisco Ganzo Barcellos, neto de Juan Edson Ganzo Fernandez. Nesta foto, raríssima, Juan Edison Ganzo Fernandez, com sua equipe, na rádio Sociedade Rio-Grandense em Porto Alegre.
Rádio Sociedade Rio-grandense: o sarau dos pioneiros esquecidos
Luiz Artur Ferraretto1
“Já não há, conquista de nossa época, distâncias invencíveis, e as antigas mosidades
do tempo foram abolidas.” A frase de impacto, escolhida a dedo pelo então diretor da Biblioteca
Pública do Estado, Eduardo Guimarães2, poderia ter passado à história, mas acabou
caindo no esquecimento. O momento era propício para as veleidades intelectuais e as
previsões otimistas. No entanto, somente 55 anos depois, em 1979, os fatos envolvendo
aquela noite de domingo, 7 de setembro de 1924, seriam recuperados, com a publicação de
Raízes e evolução do rádio e da televisão. No livro, em um trecho com quatro páginas, sob
o título Correção de um erro histórico, Octavio Augusto Vampré registrava, embora rapidamente,
a trajetória da Rádio Sociedade Rio-grandense, primeira entidade a realizar, de
forma organizada, transmissões radiofônicas no Rio Grande do Sul.
Na realidade, ainda hoje, persiste a idéia de que a radiodifusão sonora no estado
surgiu na cidade de Pelotas, a 256 km de Porto Alegre, em 1925, com a Sociedade Anônima
Rádio Pelotense. Por esta linha de raciocínio, na capital, a primeira emissora seria a
Rádio Sociedade Gaúcha, cujas transmissões iniciam, em caráter oficial, no dia 19 de novembro
de 19273. Esta é, inclusive, a versão difundida pela Associação Gaúcha de Emissoras
de Rádio e Televisão (Agert)4.
Mas voltemos àquela noite nos salões da Vila Diamela, a residência do empresário
Juan Ganzo Fernandez na Avenida 13 de Maio5, no bairro Menino Deus. Em um clima típico
de sarau em que desfilava a elite da época, as transmissões começaram às 21h, com o discurso
de Guimarães6, “saudando o presidente7 do estado, secretários do governo, demais autoridades
civis e militares, e amadores da radiotelefonia, tanto no país como no estrangeiro”8. Na
seqüência, o programa, divulgado na edição dominical do principal jornal da Porto Alegre de
então, o Correio do povo, previa a difusão de informações com “resultados dos matchs de
foot-ball, das corridas da Protetora do Turfe9 etc.”10, sobre o que não há indícios de que tenha
ocorrido ou não. O ponto alto da noite, no entanto, ficou a cargo de números musicais
predominantemente eruditos, como trechos da ópera Lohengrin, de Richard Wagner, ou uma
Polonaise, de Frédéric Chopin. Obras de compositores mais recentes à época como o russo
Sergei Rachmaninoff também faziam parte da apresentação. Foram incluídos ainda trabalhos
de brasileiros como a Canção da saudade, do poeta pernambucano Olegário Mariano, e as
melodias Suspira, coração, suspira! e Morena, morena, do compositor carioca Luciano
Gallet11. Na execução, sucediam-se, cantando ou ao piano, integrantes do Conservatório de
Música de Porto Alegre. Em um tom típico dos encontros sociais daqueles tempos, a filha do
anfitrião, Diamela Ganzo Fernandez, também participou da apresentação. Por último, Eduardo
Guimarães, dirigiu-se, novamente, aos presentes e aos eventuais ouvintes. Quando a
transmissão foi interrompida, os relógios marcavam 22h15.
1
A história da Rádio Sociedade Rio-grandense começa, no entanto, meses antes,
quando Ganzo, um dos diretores da Companhia Telefônica Rio-grandense, trouxe da Europa
a idéia de transmitir música a domicílio. A sugestão de envolver no projeto a empresa,
que expandia suas linhas pelo estado, não prosperou, como explicaria a Vampré um destes
pioneiros da radiodifusão gaúcha, Evaristo Bicca12:
“(...) dentro da própria Companhia Telefônica Rio-grandense, o coronel Ganzo
encontrou, por parte de outros diretores – Victor Coussirat de Araújo e Viterbo
de Carvalho13 - objeções ao projeto que acabou não passando disso”.
Mesmo assim, no dia 3 de abril de 1924, o jornal A federação, órgão do Partido
Republicano Rio-grandense, publicava:
“Irradiações fônicas a domicílio - Um grupo de jovens aqui residentes pretende
instalar, nesta capital, um serviço de irradiações fônicas a domicílio, mediante
modesta mensalidade, a fim de que possam gozar de tão importante melhoramento
até mesmo as pessoas menos abastadas.
As irradiações fônicas consistem na transmissão a domicílio da radiotelefonia recebida
do Rio, Buenos Aires e Montevidéu. Também serão transmitidas a domicílio:
concertos, discursos, conferências, séries humorísticas, poesias, audições
teatrais, receitas úteis para as famílias, notícias importantes e tudo aquilo que
possa interessar às famílias”14.
Integrando este grupo de entusiastas, Evaristo Bicca e Edison Ganzo15 viajam para
Buenos Aires, cidade em que várias experiências em radiodifusão já vinham sendo realizadas.
Da capital da Argentina, trazem um transmissor adquirido com a colaboração de Alberto
de Brito e Cunha. Graças ao aparelho, estavam garantidas as condições técnicas para
efetivar o funcionamento da sociedade, ainda sem nome. Assim, no dia 4 de setembro, os
“amadores da radiotelefonia”, como chamavam os jornais, reúnem-se no salão nobre de A
federação, cujo diretor interino, o jornalista Decio Martins Coimbra presidiria os trabalhos,
sugerindo que a nova entidade adotasse a denominação de Rádio Sociedade Riograndense16.
“Fundação de uma sociedade de radiotelefonia - Em reunião realizada, anteontem,
foi fundada uma sociedade de radiotelefonia, a exemplo das existentes no
país e no estrangeiro.
Presidiu os trabalhos, que correram animados, o doutor Decio Coimbra que, depois
de explicar os fins da reunião, declarou instalada a Rádio Sociedade Riograndense.
Os senhores. Edison Ganzo, Alberto de Brito e Cunha e Evaristo B. Quintana,
proprietários de um aparelho transmissor já instalado nesta capital, puseram a referida
estação à disposição da Rádio Sociedade até que esta possa adquirir uma
própria, sendo esse oferecimento agradecido pelo presidente.
Ficou, então, combinado que se iniciassem as irradiações experimentais a 7 do
corrente, em homenagem à data aniversária de nossa emancipação política.
Tratou-se, depois, da escolha da diretoria provisória, que ficou assim constituída:
presidente, doutor Decio Coimbra; vice-presidente, J.M. Barreto Vianna; secretário,
Augusto de Carvalho; tesoureiro, Dario Coelho; direção técnica, Edison
Ganzo, Adeodato Araújo e Germano Heussler; Conselho Diretor, Alberto de
Brito e Cunha, doutor Oscar Pedreira, Moacyr Godoy Ilha, Pelegrin Filgueiras,
Evaristo B. Quintana, Victor Coussirat de Araújo, Gustavo Leyraud, Tasso Bolivar
Corrêa, Pedro Notari, Eloy Moraes; Conselho Fiscal, coronel Juan Ganzo
Fernandez, doutor Mario Reis, doutor Viterbo de Carvalho. Esta diretoria funcionará
até que esteja definitivamente organizada a Rádio Sociedade Riograndense,
quando se procederá a eleição da nova diretoria.
A Rádio Sociedade Rio-grandense tem por fim proporcionar audições musicais,
conferências literárias, científicas, informações comerciais, câmbio etc.”17.
Decidida a data, foi feita a transmissão inaugural. Como se vê, os sócios da R.S.R. -
sigla com a qual a imprensa passou a denominar a entidade – pretendiam seguir os passos
de Edgard Roquette-Pinto e de sua quase homônima Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. A
rigor, os poucos dados disponíveis a respeito destas transmissões denotam uma grande
afinidade política com o governo da época, como se verá mais adiante. Antes é necessário
compreender como a introdução do rádio no extremo sul brasileiro relaciona-se com o ideal
de modernização, de progresso amparado na ordem, tão caro ao positivismo, filosofia
política hegemônica no Rio Grande do Sul desde a promulgação da Constituição Estadual,
de 14 de julho de 1891, mesma data que o autor deste documento legal, Júlio de Castilhos,
do Partido Republicano Rio-grandense, chegou à Presidência gaúcha.
2
Nas três primeiras décadas do século 20, Porto Alegre vive um sonho de urbanização.
Em 1914, por determinação do intendente18 José Montaury de Aguiar Leitão19, o arquiteto
João Maciel elabora o Plano de Melhoramentos, base da reorganização dos espaços urbanos
da capital gaúcha. Seis anos antes, a entrada em funcionamento da Usina Elétrica Municipal
garantira a energia necessária para que os bondes movidos a eletricidade começassem a circular.
É justamente em 1924, já com Otávio Rocha20 na Intendência Municipal, que o planejamento
proposto por Maciel há uma década começa a sair do papel. Novas ruas e avenidas
vão surgir. Erguem-se grandes prédios públicos como o Palácio Piratini, sede do governo
gaúcho, inaugurado em 1921; a Biblioteca Pública, concluída em 1922; ou o prédio de A
federação, porta-voz impresso do poder, construído no biênio 1921-192221.
Em paralelo, a Companhia Telefônica Rio-grandense expande suas linhas pelo estado.
Porto Alegre, desde o dia 19 de abril de 1922, conta com telefones automáticos22, um avanço
tecnológico inédito em toda a América do Sul, compartilhado apenas com Rio Grande23.
“O telefone automático, de que se podem orgulhar de possuir as duas cidades
rio-grandenses, deixa qualquer assinante que o tenha em sua residência ou negócio
o arbítrio de fazer ele próprio a sua ligação instantânea, a menos que o aparelho
que se pretenda esteja em comunicação.”24
É, portanto, no seio de uma empresa com pretensões inovadoras que o rádio começa
a ser pensado como algo mais concreto no estado. Antes disto, os indícios oferecidos
pelas edições dos dois principais periódicos da capital gaúcha – o Correio do povo e A federação
– confirmam a existência de receptores, trazidos do exterior por algum entusiasta
ou importados por meio de casas comerciais como a Barreto Vianna, a Byington ou a
Bromberg. Além disto, existiam galenas25 fabricadas artesanalmente.
Neste contexto de curiosidade em torno da inovação tecnológica, o então diretor do
Correio do povo, José Alexandre Alcaraz, contrata a importação de um receptor no mês de
julho de 1924, vendo no rádio uma utilidade semelhante à do telégrafo, pelo qual chegavam
notícias de outros estados e países.
“Acompanhando o maravilhoso desenvolvimento da radiotelefonia, que por toda
parte está assumindo extraordinária importância, o Correio do povo encomendou
nos Estados Unidos, por intermédio da casa Bromberg e Cia., desta praça, um
dos mais aperfeiçoados aparelhos no gênero.
Dotado de um poderoso alto-falante, permitirá não só receber notícias como ouvir
concertos e representações teatrais emitidos em Montevidéu, Buenos Aires e
outras estações transmissoras.
O aparelho encomendado, que não ficará somente ao serviço desta folha, mas também
será posto à disposição do público quando a ocasião se ofereça, tem as seguintes
características: contém seis tubos ou lâmpadas, utiliza para a sintonia bobinas
tipo ninho de abelhas e, para a ampliação e a reprodução, um potente ampliador
alto-falante da Western Electric Co., que constitui uma combinação inigualável,
tanto relativamente ao volume. como à intensidade dos sons produzidos”26.
A idéia de colocar o aparelho à disposição do público confirma a existência de um
certo interesse pelo que era chamado ainda de “radiotelefonia”. Interesse que é explorado,
a partir da constituição da Rádio Sociedade Rio-grandense, pelas empresas importadoras e
por pequenas oficinas de manufatura de aparelhos. Assim, duas semanas após a primeira
transmissão da R.S.R., a capa da edição dominical do Correio do povo estampava um
anúncio, o maior de todos naquela página, ocupando cinco colunas (23 cm aproximadamente)
e atingindo 7,5 cm de altura27:
RADIOTELEFONIA
“Radio Corporation of America”
Os afamados e ultramodernos aparelhos e artigos desta corporação serão em breve
postos à venda pelos agentes e depositários:
BYINGTON & Cia.
Andradas, 215A e 217 – Telefone 51 – Porto Alegre
No domingo seguinte, novo texto publicitário28, com tamanho e destaque idênticos,
propalava as vantagens dos receptores postos à venda a partir de então:
RADIOTELEFONIA
“Radio Corporation of America”
Com uma RADIOLA Super Heterodyne de seis válvulas,
recebem-se, sem ligação à antena externa ou terra, irradiações de Buenos Aires e
Rio de Janeiro com alto-falante e algumas pilhas secas em lugar de acumuladores.
Mais informações com os agentes e depositários:
BYINGTON & Cia.
Andradas, 215A e 217 – Telefone 51 – Porto Alegre
Ao que parece, os anúncios refletem um lance de oportunismo comercial da filial
gaúcha da Byington29, empresa paulista que, mais tarde, enveredaria para a produção de
receptores e tentaria montar a primeira rede de emissoras do país. Intenção semelhante
demonstram outras casas comerciais:
“Continua em experiências o aparelho de radiotelefonia instalado no Ginásio
Santa Maria, em Santa Maria, por meio do qual já foram ouvidos concertos dos
teatros de Buenos Aires, embora a instalação não esteja completa. Dentro de
pouco tempo, logo que sejam instaladas as baterias elétricas que faltam, será
aquele aparelho inaugurado. É ele servido por quatro fortes lâmpadas, e poderá
receber comunicações da distância de 2.000 km.
No Palace Hotel, em Cruz Alta, o senhor Armando P. Coelho, representante da
firma Barreto Vianna e Cia., de Porto Alegre, instalou um moderno aparelho de
radiotelefonia, o qual já deve estar funcionando”30.
Em dezembro de 1924, nas vitrinas da Livraria do Globo31, a firma Mattos e Alcântara
expõe um receptor “construído especialmente para mostrar o adiantamento da indústria
nacional neste gênero, fazendo-se apenas a importação de alguns materiais que aqui
não se encontram”32. Os aparelhos eram fabricados com a marca R.D.1 nas instalações da
empresa, na Duque de Caxias, n. 93. A respeito, informava o Correio do povo:
“São de fácil manejo, podendo ser mudadas, com diminuta demora, as comunicações
entre as várias estações emissoras. Pretendem os fabricantes construir,
agora, aparelhos de quatro válvulas, os quais terão, assim, maior potência que os
atuais de duas ou três apenas”33.
Outro exemplo da produção local eram os aparelhos oferecidos pela Rádio Oficina, de
Notari & Tambellini, instalada na General Vitorino, n. 25A. Os catálogos desta pequena fábrica
destacavam o elegante acabamento e o custo “inferior ao dos fabricados no estrangeiro”34.
Os receptores poderiam, ainda, ser adquiridos pelo correio. A empresa carioca
Mestre e Bladge oferecia, nos jornais da capital gaúcha, catálogos de equipamentos de rádio
“com 62 páginas e mais de 300 gravuras explicativas com instruções muito úteis a respeito”
35 ao preço de 2$200 (dois mil e duzentos réis). Os anúncios listavam o que poderia
ser ouvido nas irradiações das emissoras: concertos, conferências, cotações da bolsa, câmbio,
teatros e telegramas com as últimas notícias.
Circulava, ainda, em Porto Alegre, entre os entusiastas da radiodifusão, a revista
Rádio, como atesta nota publicada por A federação36:
“Oferecidos pelo nosso distinto amigo e colaborador senhor Augusto de Carvalho,
diretor da Repartição de Estatística e secretário da R.S.R., recebemos os três
últimos números, aqui chegados, dessa excelente revista brasileira, de que a Rádio
Sociedade Rio-grandense é correspondente nesta capital”.
É importante ressaltar que a publicação, a primeira do país no gênero, estava ligada
aos pioneiros da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro37, surgindo, portanto, dentro deste
clima de curiosidade e interesse crescentes pela radiodifusão. A respeito, esclarece Maria
Elvira Bonavita Federico38:
“Essa revista teve seu primeiro número publicado no Rio de Janeiro a 13 de outubro
de 1923. Era bimensal e saía nos dias primeiro e 15 de cada mês. Os números
avulsos eram vendidos no Brasil a mil e quinhentos réis e, no exterior, o número
avulso saía por dois mil e quinhentos réis, e o atrasado a quatro mil réis. As
anuidades custavam, no Brasil, trinta mil réis e, no exterior, cinqüenta mil réis
(no exterior significava edições em Buenos Aires e Montevidéu). As publicidades
veiculadas no periódico eram as das firmas produtoras ou revendedoras de
equipamentos e componentes de aparelhos de rádio (...)”.
Como era comum a utilização de material de publicações do centro do país nos jornais
de Porto Alegre, muitas vezes sem a citação da origem, pode-se cogitar que a revista
Rádio tenha servido também de fonte para alguns textos técnicos veiculados na época. São
exemplos os longos e detalhados artigos publicados no Correio do povo nos meses de fevereiro
e março de 1925, que ensinavam a montar componentes de aparelhos receptores, mais
precisamente quatro tipos de bobinas de indução eletromagnética39. Contrariando a praxe
de identificar, pelo menos com iniciais, os responsáveis por textos abordando assuntos especializados,
não há neles indicação de autoria.
É possível, ainda, aventar o que os primeiros radiófilos porto-alegrenses conseguiam
captar. As dificuldades eram muitas, variando conforme as condições meteorológicas,
como se depreende desta nota publicada na época:
“Os amadores da radiofonia devem estar satisfeitos pelos prenúncios de despedida
que faz o atual verão com estes dias frescos que ultimamente tem feito, pois
todos sabem que é a estação inimiga do rádio e principalmente este ano, que,
num período de dois meses, apenas o dia 19 de janeiro foi o único perfeito às audições
longínquas”40.
Apesar destes problemas, no entanto, pode-se supor que as emissões captadas eram
em sua maioria do Rio de Janeiro e de Buenos Aires. Em Montevidéu, desde 1922, transmitia
a Rádio General Electric41, que, no ano seguinte, passa a fazê-lo regularmente. No
entanto, mesmo no Uruguai, sua sintonia era difícil, devido à interferência de uma estação
de radiotelegrafia mais potente42. Da então capital federal, chegavam principalmente as
transmissões da Rádio Sociedade, cujo equipamento, com seus 6 kw, era o mais potente do
país43. Da Argentina, ouviam-se diversas emissoras44. Entre elas, as de sinal mais forte
eram a LOR Rádio Argentina45 e a Broadcasting La Nación46. Além destas, havia transmissões
de particulares, que dariam origem aos atuais radioamadores.
3
Pelos registros da imprensa, a maioria das transmissões da Rádio Sociedade Riograndense,
aparentemente, ocorreu em setembro, outubro e novembro de 1924. As mais importantes
estavam relacionadas com a comemoração do centenário da imigração alemã, amplamente
incentivada pelo governo estadual. Os primeiros colonos de origem germânica haviam
chegado um século antes em 25 de julho de 1824 à região do Vale do Rio dos Sinos,
onde surgiriam municípios como São Leopoldo e Novo Hamburgo47. Dentro do ideário positivista,
louvava-se o trabalho dos imigrantes e do progresso das áreas por eles ocupadas.
Assim, duas semanas após a sua transmissão inaugural, a Rádio Sociedade Riograndense
dedicou suas emissões à colônia alemã, inclusive com uma saudação do secretário
da entidade, Augusto de Carvalho. Naquele domingo, 21 de setembro, o concerto vocal
e instrumental oferecido pela R.S.R. foi ouvido em locais distantes da capital gaúcha como
São Leopoldo, a 40 km, e Cruz Alta, a 359 km. Dias depois, registrando estes fatos, o Correio
do povo anunciava:
“O governo do estado atendeu ao pedido que lhe fez aquela associação para instalar
um microfone no Theatro São Pedro, a fim de irradiar, aos vários municípios do
interior do estado, onde existem aparelhos radiotelefônicos, os espetáculos da
Companhia Alemã de Operetas, esperada nesta capital dentro de poucos dias”48.
De fato, em 23 de outubro, a Rádio Sociedade Rio-grandense fez sua primeira experiência
diretamente do Theatro São Pedro, onde a Companhia Alemã de Operetas Modernas
Urban & Lessing apresentava, naquela noite, o espetáculo A diretora dos correios49.
Dois dias depois, ocorreu a transmissão da opereta O primo lá das Índias, de Eduard
Kuennecke, dentro das comemorações do centenário da imigração alemã, como previra um
mês antes a nota publicada pelo Correio do povo50.
No dia 3 de outubro, os associados reuniram-se, aprovando o estatuto da R.S.R. e
marcando para a semana seguinte a eleição da nova diretoria, substituindo a escolhida provisoriamente
no início de setembro51. O novo encontro foi precedido por uma convocação
publicada no Correio do povo, assinada pelo secretário da diretoria provisória, Augusto de
Carvalho52. Assim, na noite de 10 de outubro53, nos salões da Confeitaria Rocco, então um
requintado ponto de encontro da elite porto-alegrense, a Rádio Sociedade Rio-grandense
escolheu a sua primeira diretoria, composta pelos seguintes sócios:
Presidente – Juan Ganzo Fernandez.
Vice-presidente – João Alcides Cunha.
Primeiro-secretário – Augusto de Carvalho.
Segundo-secretário – José Pessôa de Mello.
Primeiro-tesoureiro – Dario Coelho.
Segundo-tesoureiro – Gustavo Leyraud.
Conselho Diretor – Edison Ganzo, Mario Reis, Tasso Bolivar Corrêa e Adeodato
Araújo.
Suplentes do Conselho Diretor – Germano Heussler, J. Ennet, Alfredo Meneghetti e
Pelegrin Filgueiras.
Conselho Fiscal – Viterbo de Carvalho, Luciano Junqueira e Luciano Cunha.
Contava, então, com 300 sócios. Entre eles, despontavam intelectuais, empresários
e figuras da administração pública gaúcha. O uruguaio Juan Ganzo Fernandez54, por exemplo,
era um empreendedor. Em 1906, na cidade de Montevidéu, associado a grupos financeiros,
fundou a Ganzo, Durruty & Cia. que, um ano depois, quando ele se transferiu para
Porto Alegre, originou a Companhia Telefônica Rio-grandense, incorporando a antiga União
Telefônica de Porto Alegre. Antes, já instalara estes serviços em seu país de origem e
nos municípios gaúchos de Bagé, Erval, Dom Pedrito, São Gabriel, Rio Grande, Pelotas,
São Lourenço do Sul, Cruz Alta e Santa Cruz do Sul. A sua empresa, como já foi citado,
seria ainda a pioneira em telefonia automática na América do Sul55. Outros nomes expressivos
da Companhia Telefônica Rio-grandense eram Viterbo de Carvalho, integrante do
Conselho Fiscal da R.S.R., e Victor Coussirat de Araújo, que fez parte do Conselho Diretor
na fase de organização da sociedade.
O presidente da diretoria provisória, eleita em 4 de setembro de 1924, jornalista
Decio Martins Coimbra, ocupava a direção interina de A federação, cargo que deixa no ano
seguinte, quando passa a se dedicar à diplomacia, inicialmente no Consulado do Brasil, em
Paso de los Libres, na Argentina. Mantém-se, no entanto, como colaborador eventual do
jornal governista56. Poeta e cronista, também publicava seus textos em A federação o secretário
da R.S.R., Augusto Meireles de Carvalho, funcionário público desde 1915 e, na
época, diretor da Repartição Estadual de Estatística57. Eduardo Guimarães, que proferiu o
discurso inaugural na primeira transmissão da Rádio Sociedade Rio-grandense, dividia-se
entre a poesia simbolista, o periódico do Partido Republicano Rio-grandense e a direção da
Biblioteca Pública do Estado. Já o professor Tasso Bolivar Corrêa, do Conselho Diretor,
dirigiu o Conservatório de Música de Porto Alegre entre 1921 e 1922, voltando ao cargo
interinamente em 192558. O vice-presidente João Alcides Cunha, bacharel em Ciências
Físicas e Matemáticas, lecionava em diversas instituições com destaque para a Escola
Complementar59, na qual, posteriormente, seria diretor no biênio 1935-193660.
Embora não se tenha conseguido confirmar esta possibilidade, o sobrenome do
vice-presidente da diretoria provisória, J.M. Barreto Vianna, sugere ainda alguma ligação
da R.S.R. com a Barreto Vianna e Cia., uma das empresas comerciais instaladas que importava
aparelhos receptores. A sua participação poderia ser uma forma lógica de garantir a
colocação no mercado de Porto Alegre dos equipamentos necessários aos associados.
Com tantas pessoas ligadas aos interesses dominantes, em especial do Partido Republicano
Rio-grandense, no poder desde 1891, pode-se depreender uma proximidade da
R.S.R. com o governo gaúcho, exercido com mão de ferro por Antônio Augusto Borges de
Medeiros, então no seu quinto mandato como presidente do estado. O próprio surgimento
desta sociedade de radiófilos coincide com um momento particularmente conturbado. No
dia 28 de outubro daquele ano de 1924, o capitão Luiz Carlos Prestes61 levanta em armas a
guarnição de Santo Ângelo, tomando de assalto a cidade. O movimento dos tenentes, iniciado
em São Paulo, no mês de julho, chegava ao Rio Grande do Sul com suas reivindicações
de voto secreto, diminuição da descentralização federativa, limitação das atribuições
do Poder Executivo, moralização e independência do Legislativo, ampliação da autonomia
do Judiciário e obrigatoriedade do ensino primário e profissional.
Em contraste com as aspirações dos revoltosos, o governo estadual possuía bastante
autonomia em relação à Presidência da República e, graças à Constituição redigida por
Júlio de Castilhos, o poder estava centralizado na figura do chefe do Executivo - no caso,
Borges - que submetia a si o Legislativo e o Judiciário. Era natural, portanto, que parcela
da oposição acabasse juntando-se aos tenentes. Parece natural, também, que, devido às
relações de seus integrantes com o Partido Republicano Rio-grandense, a R.S.R. protagonizasse
um fato como este, descrito em A federação:
“A estação irradiadora da Rádio Sociedade Rio-grandense tem transmitido, para
todo o estado, todos os informes e notas oficiais, referentes à atualidade política,
insertos nas colunas de A federação.
Merece ser destacada, dessas irradiações, a transmissão, anteontem feita, do manifesto
do doutor Arthur Bernardes, presidente da República, à Nação, a proclamação
do Congresso ao povo brasileiro, bem como a do doutor Carlos de Campos,
presidente do estado de São Paulo.
Segundo informes em seu poder, as irradiações da R.S.R. têm sido apanhadas,
com muita nitidez, em diversas localidades do estado, pelos amantes da radiotelefonia”
4
Os dados disponíveis indicam que, após novembro de 1924, tornaram-se esparsas
ou cessaram totalmente as transmissões da Rádio Sociedade Rio-grandense. A entidade só
voltaria a ser notícia em abril de 1925.
“A Rádio Sociedade Rio-grandense iniciará, em princípios de maio, as suas irradiações.
Desde já está ela se preparando para fazer transmissões para vários pontos do
estado, diariamente, das 20 às 24 h.
Além de uma orquestra, que executará números de músicas nacionais, a Rádio
Sociedade irradiará conferências do nosso ilustre colaborador Alcides Maya e
dos doutores Luiz Guedes e Ulysses de Nonohay.
No ano passado, fez ela diversas irradiações que foram recebidas em várias cidades
da fronteira do estado.”64
Observa-se que o texto parece confirmar a hipótese de que as transmissões concentraram-
se nos meses de setembro, outubro e novembro de 1924. No entanto, a pretensão de
reiniciar as irradiações no mês seguinte não chega a se concretizar, como indica a nota a
seguir, publicada no dia 13 de junho em A federação:
“Esta sociedade vai recomeçar estes dias as suas irradiações para todo o estado.
Serão elas feitas com um aparelho mais possante, de 40 watts, cujo contrato de
compra já foi realizado.
Serão instalados dois alto-falantes, sendo um na Confeitaria Rosiclér65 e outro no
edifício onde funcionou o Metrópole Hotel”66.
No mesmo dia, texto semelhante, quase idêntico, aparecia nas páginas do Correio
do povo67. Pela presença, entre os integrantes da Rádio Sociedade Rio-grandense, de colaboradores
dos dois principais diários do estado na época, tudo indica que uma nova transmissão
da R.S.R. seria informada ao público, usando estes periódicos. Não é o que ocorre.
Além disto, era praxe na época o registro do aniversário de publicações – mesmo as concorrentes
– ou de entidades as mais variadas. Em setembro de 1925, nem A federação nem
o Correio lembram a transmissão de um ano antes da Rádio Sociedade. Este último, inclusive,
publica em 21 de outubro um interessante panorama das estações transmissoras brasileiras68.
Nele, a única emissora gaúcha citada é a Sociedade Anônima Rádio Pelotense,
que desde 25 de agosto transmitia na cidade de Pelotas, na zona sul do estado69.
Octavio Augusto Vampré70 apresenta uma explicação para o fim da R.S.R.:
“A Rádio Sociedade Rio-grandense procurou seguir o modelo da época, implantado
no Rio por Roquette-Pinto. Radioamadorismo e associativo. Cada um de
seus 300 sócios deveria contribuir com mensalidade de cinco mil réis.
Nem sempre pontuais nas contribuições, os sócios deixaram a empresa com sérios
problemas econômicos. Partiu-se para o debate sobre as conveniências ou
não de se apelar ao comércio. Este foi voto vencido. Pretendeu-se fidelidade aos
princípios exclusivamente culturais ditados pelo fundador da Rádio Sociedade do
Rio de Janeiro”.
Agravando esta situação da entidade e complementando a informação de Vampré,
cabe lembrar que, em 5 de novembro de 1924, o decreto n. 16.657 criava uma nova taxa a
ser paga pelos interessados, como informa esta circular assinada pelo diretor geral dos telégrafos,
Paulo Gomide:
“Em aditamento à portaria n. 3.378, de 2 de novembro de 1924, e tendo em vista
a resolução do senhor ministro da Viação, datada de 13 do corrente, declaro, de
acordo com o artigo 41 do regulamento aprovado pelo decreto n. 16.657, de 5 de
novembro de 1924, publicado no Diário Oficial de dezembro do mesmo ano, que
os possuidores de estações receptoras, além da taxa estabelecida pela lei orçamentária,
devida por exercício financeiro, ficam obrigados ao pagamento da taxa
de inscrição na importância de cinco mil réis, que será cobrada por meio de selos
de estampilhas apostas no requerimento, independente do selo próprio de um mil
réis devido por petição”71.
Portanto, após novembro, custava 5$000 (cinco mil réis) a autorização para possuir
um aparelho receptor, o que, sem dúvida, atingiu os entusiastas da época.
Observações finais
Apesar de sua curta duração, a Rádio Sociedade Rio-grandense foi, sem dúvida, a
primeira tentativa de repetir em Porto Alegre as experiências levadas a cabo na época em
outros centros, dos quais parecem ter tido maior influência as emissões provenientes do
Rio de Janeiro e de Buenos Aires. Embora praticamente esquecida depois da Segunda
Guerra Mundial, a trajetória da R.S.R. embasou iniciativas posteriores como a da Rádio
Sociedade Gaúcha que, desde o início das articulações para a sua fundação, procurou não
repetir os mesmos erros de seus antecessores. Prova disto são dois artigos publicados pelo
Correio do povo em janeiro e fevereiro de 1927, ambos intitulados Por que não possuirá
Porto Alegre a sua estação de radiodifusão? e, provavelmente, de autoria de José Baptista
Pereira72, um dos que tratava de organizar a nova entidade radiodifusora. No primeiro deles,
é reconhecido o caráter pioneiro das iniciativas de 1924, em Porto Alegre, e de 1925,
em Pelotas. O autor constata, no entanto, que ambas enfrentaram problemas devido à falta
de recursos e à ausência de um serviço de transmissões regulares e contínuas73.
Deste modo, quando a Rádio Sociedade Gaúcha foi ao ar, a transmissão inaugural daquela noite
de 19 de novembro de 1927 era financiada pela Casa Armando F. Ribeiro e Cia74. As emissões
possuíam também dias e horários fixos: terças, quintas, sábados e domingos. O rádio em Porto
Alegre começava, deste modo, lentamente a engatinhar. A experiência da Rádio Sociedade Riograndense
ia ficando para trás. As próprias condições políticas e econômicas dominantes em
1924 logo seriam suplantadas pelas mudanças provocadas pela Revolução de 1930. E o idealismo
dos pioneiros da R.S.R., mesmo eivado das preocupações e interesses da elite castilhista75,
daria lugar ao rádio comercial. Ficaria a impressão de que as experiências de setembro, outubro e
novembro de 1924 permaneceram na memória apenas como um breve e idílico sarau hertziano.
1 Professor da Universidade Luterana do Brasil, em Canoas (RS), e mestrando do Programa de Pósgraduação
em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, onde desenvolve
a dissertação Rádio e capitalismo no Rio Grande do Sul: uma abordagem histórica.
2 apud VAMPRÉ, Octavio Augusto. Raízes e evolução do rádio e da televisão. Porto Alegre: Feplam/ RBS,
1979. p. 34. O autor baseou-se em texto publicado pelo jornal A federação em 8 de setembro de 1924.
3 cf. RÁDIO Sociedade Gaúcha. Correio do povo. Porto Alegre, 20 nov. 1927. p. 5.
4 ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE EMISSORAS DE RÁDIO E TELEVISÃO. O meio rádio. Disponível na
Internet Erro! A origem da referência não foi encontrada.. 26 set. 1998.
5 Em 24 de novembro de 1935, passou a se chamar Avenida Getúlio Vargas em homenagem ao presidente da
República, que visitava Porto Alegre. Nos terrenos da Vila Diamela, passa hoje a Avenida Ganzo, referência
ao antigo proprietário da área.
6 Expressão máxima da escola simbolista no Rio Grande do Sul, em especial devido ao livro A divina quimera,
lançado em 1916, Eduardo Guimarães era o principal poeta gaúcho na época, além de redator de A federação.
É provável que esta dupla caracterização, em que pesavam significativamente os versos por ele escritos,
tenha motivado a sua escolha para proferir o discurso inaugural da Rádio Sociedade Rio-grandense. Assinava,
por vezes, grafando o sobrenome Guimaraens a exemplo de outro simbolista, o mineiro Alphonsus
Guimaraens (cf. SPALDING, Walter. Construtores do Rio grande. Porto Alegre: Sulina, 1969. v.1, p. 197./
FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. 3.ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1998. p. 201-2.).
7 Equivalente a governador, denominação adotada em 1934. Neste caso, tratava-se de Antônio Augusto Borges
de Medeiros.
8 A RADIOTELEFONIA em Porto Alegre. Correio do povo. Porto Alegre, 9 set. 1924. p. 4. Este e os demais
trechos de textos dos anos 20, citados neste artigo, tiveram sua grafia adaptada às normas atuais. Foram corrigidos
ainda erros na utilização da Língua Portuguesa ou eventuais falhas de composição.
9 Referência à Associação Protetora do Turfe, entidade responsável pela organização das corridas de cavalos
neste período.
10 SOCIEDADE de radiotelefonia. Correio do povo. Porto Alegre, 7 set. 1924. p. 4.
11 Por curiosidade, vale lembrar que o maestro Luciano Gallet exercia, por esta época, a direção artística da
Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (cf. FEDERICO, Maria Elvira Bonavita. História da comunicação: rádio
e TV no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1982. p. 39.).
12 apud VAMPRÉ, Octavio Augusto. Op. cit. p. 35.
13 Os dois, no entanto, acabariam por ser envolvidos no projeto da Rádio Sociedade Rio-grandense. Na diretoria
provisória, escolhida em 4 de setembro de 1924, o nome de Victor Coussirat de Araújo constava entre
os integrantes do Conselho Diretor e o de Viterbo de Carvalho no do Conselho Fiscal. Este último seria confirmado
no cargo em 10 de outubro, quando foi eleita a primeira diretoria da entidade.
14 apud VAMPRÉ, Octavio Augusto. Op. cit. p. 35.
15 Não há registros precisos sobre o grau de parentesco de Edison Ganzo e Juan Ganzo Fernandez. Deve-se
tratar, entretanto, de um dos cinco filhos do casal Clorinda e Juan Ganzo Fernandez, citados à época da morte
deste último em 4 de abril de 1957 (cf. CORONEL Juan Ganzo Fernandez. Correio do povo, 7 abr. 1957. p.
20. Necrologia.).
16 cf. VAMPRÉ, Octavio Augusto. Op. cit. p. 36. O autor baseou-se em texto publicado pelo jornal A federação
em 5 de setembro de 1924.
17 Correio do povo. Porto Alegre, 6 set. 1924. p. 4.
18 Cargo da época, hoje equivalente ao de prefeito.
19 Intendente de Porto Alegre entre 1896 e 1924.
20 Intendente entre 14 de outubro de 1924 e 27 de fevereiro de 1928.
21 cf. HISTÓRIA ILUSTRADA DE PORTO ALEGRE. Porto Alegre: Já Editores, 1997. p. 113-137.
22 cf. FRANCO, Sérgio da Costa. Op. cit. p. 399.
23 Município do litoral sul gaúcho localizado a 330 km de Porto Alegre.
24 COMPANHIA Telefônica Rio-grandense. A federação. Porto Alegre, 24 maio 1926. p. 5.
25 Denominação popular do sulfeto de chumbo em estado natural. Por extensão, o termo identifica um tipo de
receptor de rádio que era fabricado, muitas vezes, de forma caseira. Foi desenvolvido em 1906 por H.C.
Dunwood. Um pedaço de sulfeto de chumbo era ligado a uma antena por meio de um fio fino (o bigode de
gato). O som chegava aos ouvintes em um par de fones auriculares. A variação de uma agulha sobre o cristal
de galena fazia a sintonia da emissora (cf. VAMPRÉ, Octavio Augusto. Op. cit. p. 24-5).
26 UM APARELHO de radiotelefonia para o Correio do povo. Correio do povo. Porto Alegre, 15 jul. 1924. p. 4.
27 Correio do povo. Porto Alegre, 21 set. 1924. p. 1.
28 Correio do povo. Porto Alegre, 28 set. 1924. p. 1.
29 Pioneira da indústria eletro-eletrônica nacional, a Byington seria mais tarde absorvida pela multinacional
Motorola. No terreno da radiodifusão sonora, começa a se estruturar em 2 de maio de 1927, quando a Rádio
Cruzeiro do Sul, de São Paulo, foi inaugurada. Com o tempo, outras emissoras vão ser criadas ou absorvidas,
como a Cruzeiro do Sul (Rio de Janeiro, 1933), a Kosmos (São Paulo, 1933) e a Clube do Brasil (cujo controle
acionário foi adquirido em 1935).
30 APARELHOS de radiotelefonia. Correio do povo. Porto Alegre, 23 set. 1924. p. 5.
31 Localizada na principal rua do centro de Porto Alegre, a dos Andradas, a Livraria do Globo constituía-se
no principal ponto de encontro da intelectualidade gaúcha, sendo também freqüentada por políticos como o
próprio Getúlio Vargas.
32 APARELHO radiotelefônico. Correio do povo. Porto Alegre, 7 dez. 1924. p. 4.
33 RADIOTELEFONIA. Correio do povo. Porto Alegre, 10 dez. 1924. p. 4.
34 RADIOTELEFONIA. Correio do povo. Porto Alegre, 2 mar. 1925. p. 5.
35 Correio do povo. Porto Alegre, 4 jan. 1924. p. 13.
36 RÁDIO. A federação. Porto Alegre, 21 nov. 1924. p. 5.
37 A Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi fundada em 20 de abril de 1923 e começou suas transmissões em
1º de maio daquele ano (cf. TINHORÃO, José Ramos. Música popular, do gramofone ao rádio e TV. São
Paulo: Ática, 1981. p. 34-5.).
38 Op. cit. p. 36.
39 BOBINA de indução Fundo de Cesto. Correio do povo. Porto Alegre, 8 fev. 1925. p. 12./
VARIOCOUPLER. Correio do povo. Porto Alegre, 15 fev. 1925. p. 8./ BOBINA Honey-Comb. Correio do
povo. Porto Alegre, 24 fev. 1925. p. 3./ Bobina Honey-Comb. Correio do povo. Porto Alegre, 20 mar. 1925. p. 8.
40 O VERÃO e a radiofonia. Correio do povo. Porto Alegre, 20 mar. 1925. p. 8.
41 Atual Rádio El Espectador.
42 RADIO EL ESPECTADOR. La historia de El Espectador contada por sus protagonistas. Disponível na
Internet Erro! A origem da referência não foi encontrada.. 5 maio 1999. Apresenta a transcrição de uma
mesa-redonda apresentada no dia 14 de dezembro de 1998. No caso, a informação é do jornalista Raúl Barbero,
funcionário da emissora entre 1931 e 1936, colunista do jornal El país e autor do livro De la galena al
satélite.
43 cf. A RADIOTELEFONIA no Brasil. As estações transmissoras. Correio do povo. Porto Alegre, 21 out.
1925. p. 6.
44 Segundo o jornalista argentino Claudio Morales (consultado por correio eletrônico em 9 e 13 de maio de
1999), entre 1924 e 1925, 12 emissoras, diferentes e legalizadas, fizeram as suas transmissões em Buenos
Aires. Além disto, outras nove, piratas, tiveram curta duração.
45 Primeira emissora da Argentina, cujas transmissões teriam iniciado em 1920.
46 Inicialmente não legalizada, deu origem à atual Rádio Mitre.
47 Cidades que atualmente fazem parte da chamada Grande Porto Alegre.
48 IRRADIAÇÕES radiofônicas. Correio do povo. Porto Alegre, 25 set. 1924. p. 4. É curioso observar que
neste texto o redator do jornal rebatiza a entidade como Rádio Cultura Rio-grandense. Não há dúvida, no
entanto, de que se tratava da Rádio Sociedade Rio-grandense, por citar o nome do secretário da R.S.R., Augusto
de Carvalho, e pela interligação dos fatos com registros posteriores do mesmo periódico.
49 cf. RÁDIO Sociedade Rio-grandense. Correio do povo. Porto Alegre, 23 out. 1924. p. 4.
50 cf. Correio do povo. Porto Alegre, 26 out. 1924. p. 8.
51 RADIOTELEFONIA. A federação. Porto Alegre, 4 out. 1924. p. 2.
52 cf. RÁDIO Sociedade Rio-grandense. Correio do povo. Porto Alegre, 8 out. 1924. p. 1. Apedido.
53 cf. ELEIÇÕES da primeira diretoria da R.S.R. A federação. Porto Alegre, 11 out. 1924. p. 2.
54 Ganzo integrava o Partido Nacional, no Uruguai, ou seja, era um blanco (conservadores) na tradicional
divisão política do seu país com os colorados (liberais), tendo lutado nas escaramuças políticas de 1897 e na
revolta liderada por Aparício Saraiva, em 1904, contra o governo de José Battle y Ordóñez. Como resultado
da sua participação nestes conflitos armados, ostentava a patente de coronel.
55 Em 1926, Juan Ganzo Fernandez vende a Companhia Telefônica Rio-grandense para a norte-americana
International Telegraph and Telephone, permanecendo como diretor da empresa até 1940, quando se transfere para Florianópolis, onde cria a Companhia Telefônica Catarinense (cf. CORONEL Juan Ganzo Fernandez.
Correio do povo, 7 abr. 1957. p. 20. Necrologia.).
56 cf. MARTINS, Ari. Escritores do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora da UFRGS/ IEL, 1978. p. 151.
57 cf. MARTINS, Ari. Op. cit. p. 132.
58 cf. MARTINS, Ari. Op. cit. p. 157.
59 Atual Instituto de Educação General Flores da Cunha.
60 cf. MARTINS, Ari. Op. cit. p. 173.
61 A adesão à revolta cresceria nos meses seguintes. Em dezembro, os militares deslocam-se em direção ao
Paraná. Do seu encontro com os revoltosos paulistas, nasce a Coluna Prestes, responsável pela maior marcha
militar da história, com quase 25.000 km.
62.Os discursos e proclamações referidos pelo jornal do Partido Republicano Riograndense
foram proferidos e divulgados no dia 15 de novembro, data da Proclamação da
República, e repudiavam os levantes tenentistas. Na mesma época, a imprensa estava sob
forte pressão do governo. O chefe de Polícia, Armando Azambuja, determinara no dia 4 de
novembro a censura a todas as notícias sobre o movimento revolucionário, designando um
funcionário público de nome Sócrates Diniz para atuar junto à redação do principal diário
do estado, o Correio do povo. O diretor do jornal, José Alexandre Alcaraz, protestou contra
a medida, sem resultados, anunciando por fim, como forma de protesto, que não seriam
mais publicadas notícias a respeito da revolta63.
62 IRRADIAÇÕES da R.S.R. A federação. Porto Alegre, 19 nov. 1924. p. 5.
63 O CORREIO do povo e a censura. Correio do povo. Porto Alegre, 6 nov. 1924. p. 5.
64 A RADIOTELEFONIA em Porto Alegre. Correio do povo. Porto Alegre, 17 abr. 1925. p. 4.
65 Famoso ponto de encontro da Rua dos Andradas, administrado pelos irmãos Medeiros. A área em torno da
confeitaria era conhecida como Largo dos Medeiros.
66 SOCIEDADE Rádio Rio-grandense. A federação. Porto Alegre, 13 jun. 1925. p. 5.
67 SOCIEDADE Rádio Rio-grandense. Correio do povo. Porto Alegre, 13 jun. 1925. p. 4.
68 A RADIOTELEFONIA no Brasil. Estações transmissoras. Correio do povo. Porto Alegre, 21 out. 1925. p. 6.
69 Octavio Augusto Vampré observa que a Rádio Sociedade Rio-grandense “não chegou a comemorar o seu
segundo aniversário” (Op. cit. p. 37). Dá, portanto, a entender que a R.S.R. chegou a completar um ano ou
mais de atividades, hipótese que os dados aqui apresentados parecem desmentir.
70 Op. cit. p. 37.
71 TAXAS para instalações de aparelhos radiotelefônicos. Correio do povo, 3 fev. 1925. p. 4.
72 A autoria dos dois textos é indicada apenas pelas iniciais J.B.P. Ao final do segundo artigo, há uma convocação:
“Um grupo de dedicados amigos do rádio pretende realizar, dentro de breves dias, uma reunião que
será previamente anunciada, para tratar deste momentoso assunto. Daqui lançamos um insistente apelo a
todos os nossos amadores para que não deixem de comparecer, levando-lhes o seu auxílio e preciosa solidariedade”
(POR QUE não possuirá Porto Alegre a sua estação de radiodifusão? Segunda parte. Correio do povo.
Porto Alegre, 8 fev. 1927. p. 3.). Quando o encontro citado ocorre, no dia seguinte, José Baptista Pereira vai
ser um dos escolhidos para o comitê organizador responsável pelo projeto de estatutos da Rádio Sociedade
Gaúcha, desempenhando papel de destaque na constituição da entidade.
73 cf. POR QUE não possuirá Porto Alegre a sua estação de radiodifusão? Primeira parte. Correio do povo.
Porto Alegre, 29 jan. 1927. p. 3.
74 cf. RÁDIO Sociedade Gaúcha. Correio do povo. Porto Alegre, 18 nov. 1927. p. 4.
75 Referente a Júlio de Castilhos (1860-1903), referência ideológica de Antônio Borges de Medeiros, na época,
principal liderança política gaúcha que, na segunda metade da década de 20, vai cedendo lugar a Getúlio
Vargas, ele também um admirador do velho patriarca do Partido Republicano Rio-grandense.
Referências bibliográficas e eletrônicas
ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE EMISSORAS DE RÁDIO E TELEVISÃO. O meio rádio.
Disponível na Internet Erro! A origem da referência não foi encontrada.. 26 set.
1998.
FEDERICO, Maria Elvira Bonavita. História da comunicação: rádio e TV no Brasil. Petrópolis:
Vozes, 1982.
FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. 3.ed. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 1998.
GALVANI, Walter. Um século de poder: os bastidores da Caldas Júnior. Porto Alegre:
Mercado Aberto, 1994.
HISTÓRIA ILUSTRADA DE PORTO ALEGRE. Porto Alegre: Já Editores, 1997.
HISTÓRIA ILUSTRADA DO RIO GRANDE DO SUL. Porto Alegre: Já Editores, 1998.
MARTINS, Ari. Escritores do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora da UFRGS/ IEL,
1978.
NOSSO SÉCULO. São Paulo: Abril Cultural, 1980-1982. 5v.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História do Rio Grande do Sul. 7.ed. Porto Alegre: Mercado
Aberto, 1994.
RADIO EL ESPECTADOR. La historia de El Espectador contada por sus protagonistas.
Disponível na Internet Erro! A origem da referência não foi encontrada.. 5 maio
1999.
SPALDING, Walter. Construtores do Rio grande. Porto Alegre: Sulina, 1969. 3v.
TINHORÃO, José Ramos. Música popular, do gramofone ao rádio e TV. São Paulo: Ática,
1981.
VAMPRÉ, Octavio Augusto. Raízes e evolução do rádio e da televisão. Porto Alegre: Feplam/
RBS, 1979.
Para a elaboração deste texto foram consultadas, ainda, as coleções dos jornais Correio
do povo (de julho de 1924 a setembro de 1926; de janeiro, fevereiro, agosto, setembro,
novembro e dezembro de 1927; e de abril de 1957) e A federação (outubro de 1924 a setembro
de 1926). Também foi contatado, por meio de correio eletrônico, o jornalista argentino
Claudio Morales, coordenador da Oficina de Jornalismo Radiofônico do Colégio
Pasteur, de Buenos Aires
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