Juancito com 2 aninhos. 1942
A cidade vai ficando cada vez mais triste, mais sisuda, com a morte de seus mais representativos e bem humorados habitantes. O falecimento recente de Juan (Cito) Ganzo deixa a Ilha desfalcada da alegria, da descontração, da doce molecagem. Juancito foi mestre em protagonizar episódios insólitos, aos olhos atônitos da conservadora população nos anos 50. Fatos inusitados no melhor estilo sessão do pastelão, que preferimos dividi-los em diversas colunas para que o leitor possa deleitar-se com as diabruras desse incrível manezinho.
Perspicaz e inventivo quanto ousado, Cito convidou o arquiteto George Van Holff, amigo de muitos anos, para um uísque em sua casa. Havia uma identidade e uma relação de amizade muito forte entre eles. Van Holff conhecia a disposição de Cito para criar situações hilariantes, porém nunca imaginou que ele mesmo fosse personagem de uma delas.
Não pensou duas vezes em aceitar o convite para o uísque. Deliciava-se com o bom humor, com as histórias contadas por Cito, pelo qual nutria grande admiração. Os Ganzo fazem parte da própria história da cidade, entretanto, as cenas inusitadas patrocinadas por Juanzito não correspondiam com a tradição e o conceito da abastada família.
No telefone Cito concluiu o convite ao amigo, convocando-o para que trouxesse aquele escocês legítimo, que há muito ele havia prometido sorver a dois. Naquela década, somente as pessoas mais abonadas consumiam uísque, produto importado e de difícil aquisição. Por isso a cerveja Faixa Azul era a preferida da classe média, a peble chupava os beiços com dose de conhaque Castelo ou cachaça brava fabricada na região de Biguaçu.
Com o litro de uísque embaixo do braço Van Hoff foi festivamente recepcionado ao bater na porta de Cito Ganzo, que ficou a cantar loas ao precioso líquido e ao conferir a procedência e a dosagem alcóolica estampados no rótulo. Copos de cristal estavam cuidadosamente colocados sobre à mesa, recebendo uma observação elogiosa do holandês: "esses copos foram naturalmente lavados com açúcar?" O anfitrião balançou a cabeça com gesto afirmativo: "Para um uísque dessa qualidade não poderia ser diferenten é?" Risos ecoaram na sala.
Ao abrir a garrafa Van Holff observou, admirado: "Mas como sorver um bom uísque sem um gelo cristalino na mesa?"
É verdade... faz favor de apanhar o balde que está na geladeira - determinou Cito.
Ao abrir a porta um gato bravo e não menos assustado pula do interior da geladeira sobre Van Holff, se estatelando no chão.
Afundado na poltrona Cito, que havia propositalmente colocado o gato na geladeira, ri aos escancaros. Havia eleito mais uma de suas muitas vítimas.
Fonte: Coluna de Aldírio Simões no Jornal A Notícia de 16 de maio de 1999
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