O TELEFONE EM PORTO ALEGRE
A história da telefonia em Porto Alegre se inicia em 1882 quando a Companhia Telefonica do Brasil, que tinha sua sede na cidade do Rio de Janeiro, recebe uma carta imperial de permissão para explorar os serviços de telefone nas cidades de Petrópolis(RJ), Maceió, Salvador, Pelotas, Rio Grande e Porto Alegre. Entretanto, apesar da permissão imperial, a companhia não executou o seu projeto e a telefonia não foi implantada, Dois anos mais tarde(1884), os Srs. Luiz Augusto Ferreira de Almeida e José Joaquim de Carvalho Bastos, receberam o privilégio imperial para exploração dos serviços de telefonia em Porto Alegre e propuseram à Camara Municipal a implantação dos serviços. Em março de 1884 os vereadores aprovaram o pedido e solicitaram a homologação do contrato junto a Assembléia Provincial que imediatamente sancionou a contratação. Foi então que em 09 de setembro de 1886, a empresa Companhia União Telefonica notifica a Câmara de que está em condições de iniciar os serviços. A referida companhia se instalou em um velho casarão colonial que existia na esquina da Rua Gal. Camara com a Riachuelo no local onde em 1909 seria erguido o prédio da atual Biblioteca Pública. No dia da inauguração a companhia já contava com 72 assinantes. A inauguração oficial dos serviços ocorreu no dia 15 de setembro de 1886 com a presença, entre outras autoridades, do Presidente da Província que na época era o Marechal Deodoro da Fonseca. Foi ele o primeiro a realizar uma chamada telefonica em Porto Alegre. No final daquele ano, ao deixar a Presidencia da Província, Deodoro citou em seu relatório que a Companhia União Telefonica já contava com 135 assinantes, ou seja quase o dobro do que tinha no dia da inauguração. Este número foi crescendo rapidamente e ao final do século XIX já era de 500 assinantes.
Os serviços da Companhia União Telefonica entretanto, não pareciam satisfazer plenamente os anseios da população e das autoridades. Isso se pode constatar quando logo no início do século XX, o Intendente de Porto Alegre José Montaury de Aguiar Leitão, resolve estabelecer ligação telefonica entre os distritos de Porto Alegre. Em 1903 a cidade já se achava ligada as seguintes localidades por telefonia municipal: Gravataí, Viamão,Pedras Brancas, Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel, Belém Novo e Belém Velho.
Em 1906 as companhias de navegação e a Associação Comercial de Porto Alegre, resolvem instalar uma linha telefonica entre Belém Novo e Itapuã com a finalidade de registrar e controlar a passagem de navios na Lagoa dos Patos.
O ano de 1907 marcou o início da modernização do sistema de telefonia em Porto Alegre e também em algumas cidades do Rio Grande do Sul. Foi fundada a Companhia Telefonica Riograndense que tinha como sócio majoritário o Coronel Juan Ganzo Fernandez,nascido nas Ilhas Canárias, radicado desde muito jovem no Uruguai e que veio para Porto Alegre onde, juntamente com outros empresários, se inciou no ramo da telefonia. A Companhia Telefonica Riograndense adquiriu todo o acervo da Companhia União Telefonica e tinha a sua central instalada à rua Marechal Floriano próxima da esquina com a antiga rua 2 de fevereiro que mais tarde, em 1937, seria alargada para dar origem a atual Salgado Filho.
A empresa de Juan Ganzo Fernandez implantou tecnologia de ponta para a época e em 19 de abril de 1922 já instalava telefones automáticos em Porto Alegre. Nas Américas, somente Chicago e Nova York tinham este tipo de telefonia, logo, Porto Alegre se tornou a primeira cidade brasileira a contar com telefones automáticos. A primeira central deste tipo suportava 300 assinantes.
O Coronel Juan Ganzo Fernandez vendeu o controle de sua empresa para a IT&T ( International Telegraph and Telephone) em 1927 e mudou-se para Santa Catarina onde lá fundou a Companhia Telefonica Catarinense.
Em dezembro de 1962, no “apagar das luzes” de seu governo, depois de muitas discussões dentro e fora do Brasil, o Governador do Estado Leonel de Moura Brizola decreta a encampação da Companhia Telefonica Riograndense e abre caminho para a criação da CRT (Companhia Riograndense de Telecomunicações.
A implantação da telefonia na cidade de Pelotas: a criação CTMR
O sistema de comunicação despertava interesses de muitas pessoas e em 1884, foi fundado a empresa Correio Mercantil, por Antonio Joaquim Dias, que obteve a permissão de oferecer ao público e instalar linhas telefônicas, campainhas elétricas, para-raios e porta-vozes. Frente a esses benefícios muitos proprietários de empresas comerciais vão se conectar com a empresa do Correio Mercantil, através de uma linha telefonica. Pois, por telefone chegavam todas as novidades e notícias do porto da cidade. O Correio Mercantil criou uma coluna diária, chamada Telephones que através dela tinham a possibilidade de saber da reação da população com relação aos telefones e sobre seu uso, além de notícias de concessões e instalações de outras companhias telefonicas.
Os interesses do proprietário do Correio Mercantil, entre o período de 1884 a 1888, ficaram evidentes, e este jornal publicou diversos artigos sobre a importancia e os benefícios que teriam as pessoas da cidade com um centro telefônico. Nesses artigos publicavam o que outros jornais estavam escrevendo sobre tal inovação e as condições de pagamento de cada assinante. Os conflitos sobre os preços e as taxas de pagamento de cada assinante geraram muitas discussões na cidade e o proprietário do jornal utilizou a seguinte estratégia, lançando uma nota em que falava dos preços cobrados em Paris, Buenos Aires, Montevidéo e Rio de Janeiro, reforçando que o valor cobrado não era excessivo. Diziam que para tal inovação e melhoramento era preciso que tivessem assinantes.
A não instalação do centro telefônico por parte do proprietário do Correio Mercantil esbarrava, sobretudo, na legislação da Repartição Geral dos Telegráfos, que afirmava que era de competência exclusiva do governo imperial a concessão para o estabelecimento de linhas telefônicas. Ressaltando ainda que as linhas telefônicas que não tivessem o caráter geral e forem destinadas a serviços particulares caberia às assembléias provinciais conceder tal privilégio. Neste sentido, o proprietário do Correio Mercantil não conseguiu instalar um centro telefônico sólido.
É importante assinalar que no ano de 1888, instalou-se na cidade o Centro Telephonico Pelotense, que era mantido por José Bernadino de Souza. O mesmo conseguiu uma cláusula para explorar os serviços de linhas telefônicas por dez anos. Um dos aspectos mais importantes neste centro telefonico é que o governo provincial autorizou a camara municipal a conceder tal prerrogativa. As condições eram que ao instalar linhas telefoônicas o centro telefonico estivesse instalado na camara municipal e que proibisse qualquer empresa ou particulares de instalar novas linhas na cidade.
O governo imperial, através do engenheiro-chefe da Repartição Geral de Telégrafos escreveu um artigo que foi publicado no Correio Mercantil falando que era "um absurdo esse boicote" com relação as instalações de novas linhas telefonicas, pois a Repartição Geral de Telegráfos poderia muito bem instalar seus fios telefônicos nos postes telegráficos. O missivista termina seu artigo dizendo que poderia o Sr. José Bernadino de Souza ter influencias e conhecimentos dentro do governo provincial para ter tais concessões, mas que ele trabalhava com dignidade, transparencia, sem privilégios e lutava pelos interesses da empresa que dirigia.
Todos os conflitos existentes na concessão de linhas telefônicas na cidade de Pelotas, recebem um novo trato com a nova constituição que normatizou alguns aspectos essenciais no que se refere as redes telegráficas e telefonicas.
Pouco depois da mudança de legislação o sistema de telefonia na cidade passou a pertencer a Companhia Industrial e Construtora do Rio Grande do Sul, com sede administrativa na cidade de Porto Alegre (capital do Estado). As notícias sobre telefones são escassas pois, sua sede não estava na cidade de Pelotas e a imprensa local não publicava quase nada sobre esta companhia.
No ano de 1895, o governo do Estado percebendo a ineficiência da companhia que atuava em Pelotas, concedeu o direito de exploração do serviço telefônico para a Empreza União Telephonica. Essa concessão era para explorar os serviços em linhas telefonicas também nas cidades de Rio Grande e Porto Alegre. A companhia anterior concedeu todos os materiais de manutenção, assim como as propriedades e os trabalhadores. A nova empresa passaria a ter sede na cidade de Pelotas e também a diretoria era composta por pessoas da cidade. Com o passar dos anos a Empreza União Telephonica passa por uma série crise financeira e consequentemente não conseguiu investir em novas tecnologias. Com a criação da Companhia Telefonica Riograndense, em 1908, muitos proprietários que possuiam telefones da Empreza União Telephonica mudaram para a Companhia Telefonica Riograndense que apresentou novas tabelas de preços e uma proposta de melhores serviços. De todas as maneiras, os diretores da União Telephonica convocaram uma reunião para sanear os problemas da empresa, como uma última tentativa de recuperar o prestígio da mesma. Em reunião descobriram que os estatutos estavam ultrapassados e que no período de sua existência verificou-se uma série de fraudes e erros no livro de escrituras. A única solução possível foi fusionar-se com a Companhia Telefonica Riograndense.
A atuação da Companhia Telefonica Riograndense na cidade foi de um primeiro momento satisfatória para os que utilizavam tal serviço. Pois a empresa de Juan Ganzo Fernandes representava os interesses do estado e segundo os proprietários de telefones eram bem atendidos pela nova empresa. O mais interessante é que, em publicação nos jornais da cidade os proprietários notificavam a mudança para a empresa Ganzo, alegando o seviço eficiente da empresa. Em várias notas - a pedido da empresa - notificavam os nomes dos proprietários e o tipo de profissão de cada um deles, em sua maioria comerciantes, profissionais liberais e industriais.
Com o passar dos anos, a Companhia Telefonica Riograndense normatizou seus serviços fixando os preços dos serviços da empresa. Com a constante elevação das tarifas, muitos proprietários começam a perceber que os serviços prestados a cidade eram deficientes, pois alegavam que as normas e preços de tarifa vinham de Porto Alegre e era incompreensível que as cidades tivessem a mesma tarifa. Pois a Companhia Telefonica Riograndense não tinha o capital da cidade e alegavam que todos os benefícios com relação ao pagamento de taxas eram revertidos para outros locais e pouco ficava na cidade de Pelotas. Descontentes com os serviços prestados pela empresa de telefonia existente, os principais sócios da Associação Comercial resolveram, após várias reuniões e grandes debates, fundar sua própria companhia telefonica, formada a partir de capital pelotense.
Segundo o jornal Diário Popular, o descontentamento dos proprietários vinha desde agosto de 1917, quando ocorreram várias reuniões com o proprietário da Companhia Telefonica Riograndense. Em dezembro de 1918, a Companhia Telefônica Riograndense distribuiu circular para seus assinantes com nova tabela de preços, causando grande repercussão entre as pessoas e principalmente os comerciantes da cidade. Imediatamente os diretores da Associação Comercial convocaram uma reunião extraordinária.
Em reunião na sede da Associação Comercial, o Coronel Alberto Rosa, diretor do Banco Pelotense e ex diretor da Associação Comercial, afirmou que a única solução para melhorar os serviços telefonicos da cidade era a fundação de uma companhia telefonica com capital pelotense. A Associação Comercial de Pelotas, por meio de seus sócios, seria a principal incorporadora da nova companhia telefonica.
Assim, nasceu em 1919, a Companhia Telefonica Melhoramento e Resistencia (CTMR), cujos objetivos eram: melhorar os serviços e resistir ao capital que não fosse da cidade. O processo de implantação da CTMR seguiu a legislação das sociedades anonimas e aconteceu rapidamente. Em menos de um mes a Associação Comercial de Pelotas declarou ter depositado no Banco do Brasil a importancia de quarenta contos de réis, correspondente a dez por cento do capital declarado.
Após sua fundação, a CTMR pretendia explorar a indústria telefonica na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul e onde mais lhe conviesse. Iniciou-se assim, uma nova fase de expansão da telefonia. Os diretores da CTMR contrataram ainda, em 1919, a companhía norte-americana Western Campany e os estudos técnicos foram realizados no escritório da companhia localizado em Buenos Aires.
Com o sucesso da expansão da rede telefonica na área central da cidade de Pelotas, seus diretores resolveram estender os serviços para a cidade de Rio Grande (vizinha de Pelotas). Mas, não conseguiram o intento, pois a IT&T (International Telephone and Telegraph), que era a operadora da Companhia Telefonica Riograndense havia incorporado também os serviços daquela cidade. Aquela, através da Companhia Telefonica Riograndense vai tentar diversas vezes comprar as ações da CTMR e não conseguindo seu intento resolveu bloquear o acesso ao tráfego interurbano. Dessa forma os serviços telefonicos eram prestados por duas empresas telefonicas. Durante algum tempo quem precisava comunicar-se com outras cidades, utilizava o telefone da Companhia Telefônica Riograndense. Por isso muitas empresas comerciais e industriais possuíam dois telefones, um de cada companhia.
Podemos perceber que a partir de 1919, a Companhia Telefonica Melhoramento e Resistencia resistiu a todas as pressões para que suas ações não passassem para o capital estrangeiro. Aplicou todos os recursos em ampliação da rede telefonica levando também as suas linhas para os lugares mais afastados do município. Criou os centros telefonicos na zona rural do município como: Capão do Leão, Hydráulica, Retiro, Monte Bonito, Cascata e Santo Amor. Locais estes onde os acionistas da CTMR, na sua maioria, possuíam suas casas de verão ou eram proprietários de terras. Em todos esses centros, a Prefeitura Municipal possuia um escritório que estava conectado por linha telefonica.
Mesmo com as dificuldades burocráticas e concorrenciais em expandir linhas telefônicas para outras cidades, observamos o crescimento de linhas telefônicas: 2.121 em 1923, 2.475 linhas particulares em 1926, sendo que 57 telefones pertenciam as repartições públicas, além de 12 telefones privativos da empresa. Na década de 1930, a Companhia possuía 2.830 aparelhos colocados nos municípios de Pelotas e região.
Neste sentido, a expansão da rede telefonica, nas primeiras décadas do século XX em Pelotas, demonstrava todo o dinamismo da sua economia, sendo necessário investir em infra-estrutura básica. Pois, é interessante observar que os acionistas eram empresários, para os quais a nova companhia telefônica traria grandes benefícios para seus negócios e precisavam, portanto, de um serviço eficiente, para reduzir as distâncias e ter maior lucratividade nos seus empreendimentos.
Os serviços da Companhia União Telefonica entretanto, não pareciam satisfazer plenamente os anseios da população e das autoridades. Isso se pode constatar quando logo no início do século XX, o Intendente de Porto Alegre José Montaury de Aguiar Leitão, resolve estabelecer ligação telefonica entre os distritos de Porto Alegre. Em 1903 a cidade já se achava ligada as seguintes localidades por telefonia municipal: Gravataí, Viamão,Pedras Brancas, Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel, Belém Novo e Belém Velho.
Em 1906 as companhias de navegação e a Associação Comercial de Porto Alegre, resolvem instalar uma linha telefonica entre Belém Novo e Itapuã com a finalidade de registrar e controlar a passagem de navios na Lagoa dos Patos.
O ano de 1907 marcou o início da modernização do sistema de telefonia em Porto Alegre e também em algumas cidades do Rio Grande do Sul. Foi fundada a Companhia Telefonica Riograndense que tinha como sócio majoritário o Coronel Juan Ganzo Fernandez,nascido nas Ilhas Canárias, radicado desde muito jovem no Uruguai e que veio para Porto Alegre onde, juntamente com outros empresários, se inciou no ramo da telefonia. A Companhia Telefonica Riograndense adquiriu todo o acervo da Companhia União Telefonica e tinha a sua central instalada à rua Marechal Floriano próxima da esquina com a antiga rua 2 de fevereiro que mais tarde, em 1937, seria alargada para dar origem a atual Salgado Filho.
A empresa de Juan Ganzo Fernandez implantou tecnologia de ponta para a época e em 19 de abril de 1922 já instalava telefones automáticos em Porto Alegre. Nas Américas, somente Chicago e Nova York tinham este tipo de telefonia, logo, Porto Alegre se tornou a primeira cidade brasileira a contar com telefones automáticos. A primeira central deste tipo suportava 300 assinantes.
O Coronel Juan Ganzo Fernandez vendeu o controle de sua empresa para a IT&T ( International Telegraph and Telephone) em 1927 e mudou-se para Santa Catarina onde lá fundou a Companhia Telefonica Catarinense.
Em dezembro de 1962, no “apagar das luzes” de seu governo, depois de muitas discussões dentro e fora do Brasil, o Governador do Estado Leonel de Moura Brizola decreta a encampação da Companhia Telefonica Riograndense e abre caminho para a criação da CRT (Companhia Riograndense de Telecomunicações.
A implantação da telefonia na cidade de Pelotas: a criação CTMR
O sistema de comunicação despertava interesses de muitas pessoas e em 1884, foi fundado a empresa Correio Mercantil, por Antonio Joaquim Dias, que obteve a permissão de oferecer ao público e instalar linhas telefônicas, campainhas elétricas, para-raios e porta-vozes. Frente a esses benefícios muitos proprietários de empresas comerciais vão se conectar com a empresa do Correio Mercantil, através de uma linha telefonica. Pois, por telefone chegavam todas as novidades e notícias do porto da cidade. O Correio Mercantil criou uma coluna diária, chamada Telephones que através dela tinham a possibilidade de saber da reação da população com relação aos telefones e sobre seu uso, além de notícias de concessões e instalações de outras companhias telefonicas.
Os interesses do proprietário do Correio Mercantil, entre o período de 1884 a 1888, ficaram evidentes, e este jornal publicou diversos artigos sobre a importancia e os benefícios que teriam as pessoas da cidade com um centro telefônico. Nesses artigos publicavam o que outros jornais estavam escrevendo sobre tal inovação e as condições de pagamento de cada assinante. Os conflitos sobre os preços e as taxas de pagamento de cada assinante geraram muitas discussões na cidade e o proprietário do jornal utilizou a seguinte estratégia, lançando uma nota em que falava dos preços cobrados em Paris, Buenos Aires, Montevidéo e Rio de Janeiro, reforçando que o valor cobrado não era excessivo. Diziam que para tal inovação e melhoramento era preciso que tivessem assinantes.
A não instalação do centro telefônico por parte do proprietário do Correio Mercantil esbarrava, sobretudo, na legislação da Repartição Geral dos Telegráfos, que afirmava que era de competência exclusiva do governo imperial a concessão para o estabelecimento de linhas telefônicas. Ressaltando ainda que as linhas telefônicas que não tivessem o caráter geral e forem destinadas a serviços particulares caberia às assembléias provinciais conceder tal privilégio. Neste sentido, o proprietário do Correio Mercantil não conseguiu instalar um centro telefônico sólido.
É importante assinalar que no ano de 1888, instalou-se na cidade o Centro Telephonico Pelotense, que era mantido por José Bernadino de Souza. O mesmo conseguiu uma cláusula para explorar os serviços de linhas telefônicas por dez anos. Um dos aspectos mais importantes neste centro telefonico é que o governo provincial autorizou a camara municipal a conceder tal prerrogativa. As condições eram que ao instalar linhas telefoônicas o centro telefonico estivesse instalado na camara municipal e que proibisse qualquer empresa ou particulares de instalar novas linhas na cidade.
O governo imperial, através do engenheiro-chefe da Repartição Geral de Telégrafos escreveu um artigo que foi publicado no Correio Mercantil falando que era "um absurdo esse boicote" com relação as instalações de novas linhas telefonicas, pois a Repartição Geral de Telegráfos poderia muito bem instalar seus fios telefônicos nos postes telegráficos. O missivista termina seu artigo dizendo que poderia o Sr. José Bernadino de Souza ter influencias e conhecimentos dentro do governo provincial para ter tais concessões, mas que ele trabalhava com dignidade, transparencia, sem privilégios e lutava pelos interesses da empresa que dirigia.
Todos os conflitos existentes na concessão de linhas telefônicas na cidade de Pelotas, recebem um novo trato com a nova constituição que normatizou alguns aspectos essenciais no que se refere as redes telegráficas e telefonicas.
Pouco depois da mudança de legislação o sistema de telefonia na cidade passou a pertencer a Companhia Industrial e Construtora do Rio Grande do Sul, com sede administrativa na cidade de Porto Alegre (capital do Estado). As notícias sobre telefones são escassas pois, sua sede não estava na cidade de Pelotas e a imprensa local não publicava quase nada sobre esta companhia.
No ano de 1895, o governo do Estado percebendo a ineficiência da companhia que atuava em Pelotas, concedeu o direito de exploração do serviço telefônico para a Empreza União Telephonica. Essa concessão era para explorar os serviços em linhas telefonicas também nas cidades de Rio Grande e Porto Alegre. A companhia anterior concedeu todos os materiais de manutenção, assim como as propriedades e os trabalhadores. A nova empresa passaria a ter sede na cidade de Pelotas e também a diretoria era composta por pessoas da cidade. Com o passar dos anos a Empreza União Telephonica passa por uma série crise financeira e consequentemente não conseguiu investir em novas tecnologias. Com a criação da Companhia Telefonica Riograndense, em 1908, muitos proprietários que possuiam telefones da Empreza União Telephonica mudaram para a Companhia Telefonica Riograndense que apresentou novas tabelas de preços e uma proposta de melhores serviços. De todas as maneiras, os diretores da União Telephonica convocaram uma reunião para sanear os problemas da empresa, como uma última tentativa de recuperar o prestígio da mesma. Em reunião descobriram que os estatutos estavam ultrapassados e que no período de sua existência verificou-se uma série de fraudes e erros no livro de escrituras. A única solução possível foi fusionar-se com a Companhia Telefonica Riograndense.
A atuação da Companhia Telefonica Riograndense na cidade foi de um primeiro momento satisfatória para os que utilizavam tal serviço. Pois a empresa de Juan Ganzo Fernandes representava os interesses do estado e segundo os proprietários de telefones eram bem atendidos pela nova empresa. O mais interessante é que, em publicação nos jornais da cidade os proprietários notificavam a mudança para a empresa Ganzo, alegando o seviço eficiente da empresa. Em várias notas - a pedido da empresa - notificavam os nomes dos proprietários e o tipo de profissão de cada um deles, em sua maioria comerciantes, profissionais liberais e industriais.
Com o passar dos anos, a Companhia Telefonica Riograndense normatizou seus serviços fixando os preços dos serviços da empresa. Com a constante elevação das tarifas, muitos proprietários começam a perceber que os serviços prestados a cidade eram deficientes, pois alegavam que as normas e preços de tarifa vinham de Porto Alegre e era incompreensível que as cidades tivessem a mesma tarifa. Pois a Companhia Telefonica Riograndense não tinha o capital da cidade e alegavam que todos os benefícios com relação ao pagamento de taxas eram revertidos para outros locais e pouco ficava na cidade de Pelotas. Descontentes com os serviços prestados pela empresa de telefonia existente, os principais sócios da Associação Comercial resolveram, após várias reuniões e grandes debates, fundar sua própria companhia telefonica, formada a partir de capital pelotense.
Segundo o jornal Diário Popular, o descontentamento dos proprietários vinha desde agosto de 1917, quando ocorreram várias reuniões com o proprietário da Companhia Telefonica Riograndense. Em dezembro de 1918, a Companhia Telefônica Riograndense distribuiu circular para seus assinantes com nova tabela de preços, causando grande repercussão entre as pessoas e principalmente os comerciantes da cidade. Imediatamente os diretores da Associação Comercial convocaram uma reunião extraordinária.
Em reunião na sede da Associação Comercial, o Coronel Alberto Rosa, diretor do Banco Pelotense e ex diretor da Associação Comercial, afirmou que a única solução para melhorar os serviços telefonicos da cidade era a fundação de uma companhia telefonica com capital pelotense. A Associação Comercial de Pelotas, por meio de seus sócios, seria a principal incorporadora da nova companhia telefonica.
Assim, nasceu em 1919, a Companhia Telefonica Melhoramento e Resistencia (CTMR), cujos objetivos eram: melhorar os serviços e resistir ao capital que não fosse da cidade. O processo de implantação da CTMR seguiu a legislação das sociedades anonimas e aconteceu rapidamente. Em menos de um mes a Associação Comercial de Pelotas declarou ter depositado no Banco do Brasil a importancia de quarenta contos de réis, correspondente a dez por cento do capital declarado.
Após sua fundação, a CTMR pretendia explorar a indústria telefonica na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul e onde mais lhe conviesse. Iniciou-se assim, uma nova fase de expansão da telefonia. Os diretores da CTMR contrataram ainda, em 1919, a companhía norte-americana Western Campany e os estudos técnicos foram realizados no escritório da companhia localizado em Buenos Aires.
Com o sucesso da expansão da rede telefonica na área central da cidade de Pelotas, seus diretores resolveram estender os serviços para a cidade de Rio Grande (vizinha de Pelotas). Mas, não conseguiram o intento, pois a IT&T (International Telephone and Telegraph), que era a operadora da Companhia Telefonica Riograndense havia incorporado também os serviços daquela cidade. Aquela, através da Companhia Telefonica Riograndense vai tentar diversas vezes comprar as ações da CTMR e não conseguindo seu intento resolveu bloquear o acesso ao tráfego interurbano. Dessa forma os serviços telefonicos eram prestados por duas empresas telefonicas. Durante algum tempo quem precisava comunicar-se com outras cidades, utilizava o telefone da Companhia Telefônica Riograndense. Por isso muitas empresas comerciais e industriais possuíam dois telefones, um de cada companhia.
Podemos perceber que a partir de 1919, a Companhia Telefonica Melhoramento e Resistencia resistiu a todas as pressões para que suas ações não passassem para o capital estrangeiro. Aplicou todos os recursos em ampliação da rede telefonica levando também as suas linhas para os lugares mais afastados do município. Criou os centros telefonicos na zona rural do município como: Capão do Leão, Hydráulica, Retiro, Monte Bonito, Cascata e Santo Amor. Locais estes onde os acionistas da CTMR, na sua maioria, possuíam suas casas de verão ou eram proprietários de terras. Em todos esses centros, a Prefeitura Municipal possuia um escritório que estava conectado por linha telefonica.
Mesmo com as dificuldades burocráticas e concorrenciais em expandir linhas telefônicas para outras cidades, observamos o crescimento de linhas telefônicas: 2.121 em 1923, 2.475 linhas particulares em 1926, sendo que 57 telefones pertenciam as repartições públicas, além de 12 telefones privativos da empresa. Na década de 1930, a Companhia possuía 2.830 aparelhos colocados nos municípios de Pelotas e região.
Neste sentido, a expansão da rede telefonica, nas primeiras décadas do século XX em Pelotas, demonstrava todo o dinamismo da sua economia, sendo necessário investir em infra-estrutura básica. Pois, é interessante observar que os acionistas eram empresários, para os quais a nova companhia telefônica traria grandes benefícios para seus negócios e precisavam, portanto, de um serviço eficiente, para reduzir as distâncias e ter maior lucratividade nos seus empreendimentos.
Escrito por Ronaldo Marcos Bastos