20 outubro 2006

A NOTÍCIA - 15 de Outubro de 2006




Hoje, ao conversar com o Tio Beto, soube que ele havia sido entrevistado por um reporter do jornal "A NOTÍCIA" e havia sido publicada no jornal de domingo passado esta reportagem sobre o Coronel Juan Ganzo Fernandez, aliás, Juan Pedro Guillermo Maria de los Remedios Ganzo Fernandez!!! Éééé.... preciso mesmo conversar calmamente com o tio Beto, afinal, ele sabe de muitas coisas que nós nem sonhamos...
Aqui está um link para a reportagem: http://an.uol.com.br/ancapital/2006/out/15/1ger.jsp



Geral - AN Capital

O revolucionário que fazia dinheiro

Juan Ganzo Fernandez deu ao Estado rede de telefonia e deixou marcas na história do Uruguai e Rio Grande do Sul

Carlito Costa

Tarde da noite do dia 2 de abril de 1957, Montevidéu, Uruguai. O redator do jornal "El Debate", órgão oficial do tradicional Partido Blanco, aguarda um telefonema do Brasil antes de baixar à gráfica os clichês para impressão da edição do dia seguinte. A notícia chega antes da meia-noite. Juan Ganzo Fernandez havia morrido por volta das 23 horas, aos 88 anos, em Florianópolis. A sede do Partido Blanco fechou suas portas em sinal de luto e um longo artigo homenageou o ex-companheiro, já então transformado em bem sucedido empresário no Sul do Brasil.Ganzo era um personagem da história uruguaia desde as revoltas de 1897 e 1904, em que os blancos foram derrotados por seus rivais, os colorados. É dessa época que Ganzo galgou a patente revolucionária de coronel Ganzo, que se tornaria uma espécie de apelido daí em diante. Uma vida de aventuras começou nas Ilhas Canárias (Espanha), em meados do século 19, terminou com o ex-revolucionário descansando em paz em outra ilha do Atlântico, no Sul do Brasil. No caminho, fundou empresas no Uruguai e Rio Grande do Sul, além de criar o primeiro sistema de telefonia a integrar o Estado de Santa Catarina.Juan Pedro Guillermo Maria de los Remedios Ganzo Fernandez nasceu no dia 5 de outubro de 1868 no pequeno povoado de Yaiza, na ilha de Lanzarote, uma das Canárias, arquipélago do Atlântico que pertence à Espanha. O nome comprido se deve ao costume do lugar de incorporar às crianças o nome dos padrinhos de batismo. A mãe era dona de uma fábrica de tintas e o pai morreu antes do nascimento do caçula. Em 1882, quando Juan tinha 14 anos, a família embarcou num navio e mudou-se para Montevidéu, capital de um Uruguai que enriquecia produzindo carne para frigoríficos ingleses. Herdou da mãe o tino para os negócios - ela logo abriu uma padaria e confeitaria que seria uma das maiores da cidade - e adotou para sempre a nacionalidade uruguaia.Naquela época, Montevidéu já tinha um serviço de telefones, uma novidade tecnológica na época. O escocês Alexander Graham Bell havia registrado a patente da invenção apenas seis anos antes (1876). Interessado por eletricidade, o adolescente fingia ser funcionário da telefônica local para entrar nas casas e abrir o aparelho, em busca de seus segredos. Aos 17 anos, criou sua própria companhia de telefones em San José, a 100 quilômetros ao norte da capital uruguaia, estendendo suas redes em direção ao Brasil. Em 1899 suas linhas cruzaram a fronteira, estabelecendo ligação com Bagé, no Rio Grande do Sul, onde comprou também uma empresa local de telefones e energia.
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Coronel foi pioneiro na América do Sul

Em 1922, o coronel Ganzo instalou em Porto Alegre a primeira central telefônica automática da América do Sul, três semanas antes de Buenos Aires. A central permitia ao usuário discar diretamente o número do telefone, sem a intermediação de uma telefonista. Essa inovação só chegaria a São Paulo em 1928 e ao Rio de Janeiro, então Capital da República, em 1929. Em 1924, vendeu sua Companhia Telefônica Rio Grandense (CTR) a uma empresa americana para impedir que um sócio uruguaio em apuros tivesse prejuízo ao ter que vender apenas sua parte minoritária na empresa.Com dinheiro e sem a empresa, Ganzo tratou de investir em outras coisas. Para uma ampla chácara onde morava no bairro Menino Deus, em Porto Alegre (onde hoje fica a avenida Ganzo), começou a levar animais exóticos, para ter o prazer de admirá-los. O jardim zoológico particular foi sendo dotado de leão, camelo e outros bichos, atraindo tanto a curiosidade dos vizinhos que Ganzo resolveu abri-lo ao público e cobrar ingresso. Por essa época, a convite de uma amigo que encontrou em Buenos Aires, foi assistir a um leilão no porto e acabou comprando um grande barco de passageiros. Passou a explorar uma linha regular entre Montevidéu e Buenos Aires.
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Ganzo fundou empresa que viraria a Telesc

Nos anos 1920, não havia um sistema de telefones integrado em Santa Catarina. Florianópolis e Joinville tinham seus dois sistemas locais próprios. A empresa Triks & Elkhe detinha a concessão do serviço da Capital desde 1907, por um prazo de 20 anos. Quando o prazo da concessão se esgotou, em 1927, o governador catarinense era Adolfo Konder, irmão do então ministro da Viação e Obras Públicas Víctor Konder, que conhecia pessoalmente Juan Ganzo Fernandez e sabia que o velho coronel, já com seus 59 anos, havia vendido há pouco sua empresa telefônica no Rio Grande do Sul para os americanos.Por sugestão do irmão ministro, o governador convidou o coronel Ganzo para mudar-se para Florianópolis e construir a primeira companhia telefônica estadual. Ganzo aceitou o desafio e enviou o filho Juan Carlos para dar início a empresa Juan Ganzo Fernandez. O patriarca se mudaria para a capital catarinense em 1930 e oito anos depois transformaria a empresa numa sociedade anônima chamada Companhia Telefônica Catarinense (CTC), mais tarde (1969) estatizada como Cotesc, precursora da Telesc.

Petróleo

Enquanto esteve em Santa Catarina, Ganzo não deixou de fazer negócios mais ao Sul. Em 1936, juntamente com outros sete sócios brasileiros, argentinos e uruguaios fundou a refinaria de petróleo Ipiranga, em Rio Grande (RS). Deixou a sociedade em 1938, quando um decreto do presidente Getúlio Vargas proibiu que empresas de petróleo tivessem estrangeiros como sócios. Mesmo tendo filhos nascidos no Brasil, preferiu vender sua parte, em solidariedade aos sócios argentinos e uruguaios, que tiveram de fazer o mesmo.A impulsividade de Ganzo, nos negócios ou no trato com as pessoas, era folclórica. O neto Carlos Alberto conta histórias até difíceis de acreditar. Em 1950, teria conseguido do governador a cessão do prédio onde funcionava a carceragem de uma delegacia de polícia (na rua Vitor Meirelles, ao lado do Correio) para instalar a central telefônica da cidade. "Assim que recebeu o sim do governador, pegou uma marreta e começou a quebrar as paredes com uma marreta, para reformar o prédio. Presos saíam pelo buraco aberto e recebiam imediatamente um dinheiro para ajudar a derrubar o resto da parede", conta o neto. Por essa época, teria repreendido severamente funcionários da companhia em Itajaí, reunidos num pátio, por não manter limpos os banheiros femininos, usados pelas telefonistas. "Ele mesmo, que só andava de terno, tirou o paletó, arregaçou as mangas e se pôs a limpar os banheiros com as próprias mãos", garantiu o neto. Ao mesmo tempo em que era duro, Ganzo era também inovador ao distribuir parte dos lucros aos funcionários, prática que se tornaria comum apenas muitas décadas depois. (CC)
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Mudança para o Brasil foi em 1901

Ganzo chegara ao Brasil em 1901, instalando-se em Bagé (RS). Comprou uma bela casa no centro da cidade. Para fazer frente aos ricos estancieiros da região, mandou trazer da Itália um artista para decorar o interior da casa com pinturas e afrescos, o mesmo que seria depois convidado a decorar a principal igreja da cidade. Continuou fazendo negócios sem jamais se desligar na política uruguaia. Em 1904, outra revolta estoura no país vizinho. Ganzo apóia novamente os blancos, outra vez derrotados. Carlos Alberto Ganzo Fernandez, neto do coronel Ganzo, conta um exemplo de como o avô sabia fazer o dinheiro se multiplicar. Em 1912, enviou o filho mais velho, Juan Carlos, para terminar o curso de engenharia na Europa. Juan Carlos estava na Alemanha quando estourou a Primeira Guerra Mundial, tranferindo-se para a neutra Suíça. Lá estudou pouco - não terminou os dois anos de curso nos seis que ficou lá - e se divertiu muito com festas e corridas de motocicleta. Sustentava-se com o contrabando de cigarros - mercadoria escassíssima por causa da guerra e muito valorizada - enviados pelo pai, enrolados em jornais brasileiros enviados pelo correio. Juan Carlos só voltou ao Brasil em 1918, terminada a guerra, trazido pela falsa notícia de que o pai havia morrido. (CC)

Um comentário:

claudioantunesboucinha disse...

também estudo Ganzo Fernandes.